sexta-feira, 29 de junho de 2012

MARIA CLEA ( Minhas recordações)




                    Quando a saudade me “ arrodeia” , as lembranças afloram e eu me dou o direito de esquecer o que sou hoje, uma mulher em plena “MELHOR IDADE” e ,corro descalça pelas campinas do meu mundo encantado de criança. A usina Trapiche, surge  grande , maior do que era realmente e eu volto a ser aquela criança que teve a felicidade de ser uma criança de verdade:  danada, mentirosa, curiosa , que adorava uma novidade.
                     Estou de volta aos meus  oito anos, creio que a fase mais gostosa da minha infância.
                      O Natal já tinha passado e nós nos arrumávamos para ir passar as férias na praia. Papai anunciara que eu teria uma companheira naquele verão. Ele , no seu trabalho de agrônomo , visitava todos os engenhos que forneciam cana para a usina e assim fazia amizade com muita gente . A minha companheira era filha de um senhor de engenho e tinha uma equizema  na perna. Meu pai ficou sabendo e como bom   “ Médico” que também se achava, se ofereceu para levar a menina para a praia porque o banho de mar certamente seria benéfico para ela. Tudo combinado e acertado e eu estava na maior expectativa para conhecer a tal garota.  Fomos para a praia e uns dias depois , papai levou Maria Clea. Ela chegou meio desconfiada, não conhecia ninguém, mas logo fizemos amizade e foram umas férias deliciosas. Não lembro se sua perna melhorou, mas ela se divertiu pra valer. Fizemos todos os programas que me eram peculiares, como ir ao mangue, pegar caranguejo , andar de perna de pau, ir muito longe buscar caju e outras coisinhas mais. Com certeza botei a menina no mau caminho, visto que ela era muito quietinha e  educada.
                     Voltamos da praia e como ainda tinha uns dias de férias, o pai de Maria Clea me convidou para passar uns dias no engenho deles. Foi uma ideia brilhante e fiquei num assanhamento só.
                      Saímos da usina montados num burro, a menina , o pai e eu. Já era quase noite e fizemos toda a viagem no escuro. Em cima do lombo de um burro a 1km por hora. Que programão !  Achei o máximo!
                       Chegando no engenho, logo percebi que não tinha luz elétrica e a iluminação era à base de candeeiro de querosene, coisa que eu estava acostumada porque na praia também era assim.  A casa era grande e cheia de quartos. A mãe dela , uma pessoa carinhosa, me acolheu da melhor forma possível.  Lembro muito bem do engenho, de uma lagoa na frente de casa, dos patos nadando e da irmãzinha da minha amiga, uma garotinha de uns três anos, muito gorduchinha , com olhos azuis e cabelos cacheados, de nome Iolanda.
                       Não havia  muito  o   que fazer  no engenho e nossa maior distração era tomar banho numa bica, perto da casa. Era uma delícia. Os dias eram curtos e as noites muito longas, porque como não tinha energia, íamos cedo pra cama, logo após o jantar. O mais gostoso era o café da manhã :  um prato de jerimum (abóbora) com leite quente tirado na hora, direto da teta da vaquinha. Fui embora com saudades daquele lugar tão diferente da minha realidade, daquele bucolismo que apesar de morar numa Usina , no interior, eu não conhecia.
                         Não lembro de ter encontrado novamente aquelas pessoas. Nunca mais fiquei sabendo da minha amiguinha Maria Clea e por um bom tempo quis muito saber dela, do que fez na vida. Hoje ,fico pensando como as pessoas passam pela nossa vida e marcam a sua passagem. Com certeza , eu marquei a vida dela porque sei que fui uma ótima professora de travessuras.
                         Quanta saudade boa de um tempo maravilhoso ! Parece que foi ontem que tudo aconteceu e lá se vai mais de meio Século !!!!

Graça,junho/2012

terça-feira, 26 de junho de 2012


UMA LUZ NO FIM DA ESTRADA

Minhas lágrimas são de sangue
Quando chora o meu coração
Meus sonhos são  de sombras
Minhas esperanças, assombração.

Meus dias são noites sem fim
As horas se arrastam dolentes
Minha alma triste me deixa só
Ao abandono das dores prementes.

Tanta ilusão perdida no tempo
Tanto tempo perdido em vão
E a vida célere  vai em frente
Trazendo mais uma decepção.

Fazer o que diante do sofrimento?
Secar as lágrimas, acalmar o coração
Abrir a janela, afastar os espectros
Reverter o tempo , fazer uma oração.

A vida não  para diante de um percalço
O tempo ,nada consegue  parar
Há sempre uma luz no fim da estrada
Há sempre uma surpresa a me esperar !

Graça,junho/2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

VÉSPERA DE SÃO JOÃO NA USINA TRAPICHE


              
 

              Sto. Antonio passou , foi festejado e mais do que isso cobrado pelas meninas, moças e até velhas que queriam  um casamento de qualquer jeito “ nem que for no militar”. As adivinhações foram muitas, os castigos também e o pobre coitado do santo que virou cupido um  dia , nunca mais foi deixado em paz. Espero que pelo  menos, tenham feito muita festa pra ele, com muita fogueira, fogos e tudo.  Aliás ,  acho uma grande injustiça tudo isso, porque enquanto São João dorme, Sto. Antônio trabalha pra mulherada e quem é mais homenageado é o outro. E ainda tem São Pedro que vem depois. É um mês de alegria para o povo nordestino que não mede esforços para fazer festa das boas.
                De longe , acompanho os folguedos e é hora de ir lá pra Usina Trapiche, buscar as lembranças e botar a cachola pra funcionar , caprichando nos detalhes. É a vez e hora dos sanfoneiros atacarem  com suas músicas  gostosas de ritmo sacudido, bom pra dançar.
                 A essa altura, já preparamos o  milho , o coco, a castanha e mamãe com sua habilidade , mostrava como se fazer a melhor canjica, aquela pamonha incomparável e o  pé de moleque mais gostoso. Ela ainda fazia o bolo Souza Leão, que não podia faltar. E antes de começar a festa, nos servia o seu mingau de milho verde, delicia exclusiva sua.
                 O banquete estava pronto e era hora de tomarmos banho e vestir as roupas novas que dona Graça havia feito. Num dia assim, nem precisava mandar e todo mundo corria para o banheiro, disputando quem ia primeiro. Nossa curiosidade era para com a caixa cheia de fogos que papai distribuiria em seguida. Era chegado o melhor momento.  Seu Abel , muito solene ,entregava os fogos de acordo com a idade. Os mais velhos tinham direito até aos foguetes e fogos mais potentes. Havia as pistolas , os vulcões, busca-pés, peido de véia , cobrinha elétrica, chuva de prata estrelinhas , traques de massa e outros que não lembro. Fazíamos a nossa festa no céu.
                 Às seis horas da tarde, quando começava a escurecer, o nosso pai cumpria a solene missão de acender a fogueira, coisa que só ele sabia fazer e nós já começávamos a farra dos fogos. A casa se enchia de fumaça e Lia coitada, a essas alturas já gritava no banheiro, porque os meninos enfiavam fogos pelo buraco da fechadura e deixavam ela louca de desespero. Era muito bom ! Fecho os olhos e posso ver os foguetes subindo e a gente correndo com medo que as tabocas nos caíssem na cabeça. Bolas luminosas e coloridas estouravam no céu , o vulcão jogava fogo e fagulhas coloridas enchendo nossos olhos de sonho e alegria. Brincávamos em volta da fogueira que ardia rápida e voraz e assávamos o milho em espetos que papai preparava pra isso.
                Nessa época , sempre havia uma chuvinha que não conseguia atrapalhar a nossa festa, mas com certeza devia perturbar dona Graça, porque na nossa euforia , entrávamos e saíamos  de casa, sujando tudo. Brincávamos e devorávamos as gostosuras que estavam na mesa.  Como sempre era tudo muito mágico !
                O clube promovia o baile com quadrilha e pela noite a dentro o arrastape´ rolava na maior alegria. E a grande fogueira queimava até o dia seguinte.
                 Em 1955, lembro com um pouco de tristeza que a nossa noite de São João, não foi das mais alegres. Os três irmãos mais velhos estavam em Recife estudando e não passaram a festa conosco. Não sei se por eles não terem ido pra Usina ou se porque diante das despesas com duas casas, a grana estava curta, nós três que ficamos lá, Eduardo, Luiza e eu, não tivemos fogos e sofremos com isso. Papai deve ter sofrido muito mais , vendo-nos queimar papel e jogar pra cima como se fossem fogos.
            No ano seguinte, não foi diferente. Aí Murilo também estava na Usina, porque foi o ano que ficou sem estudar. Luiza estava com catapora e o São João também minguou. Não tivemos a nossa festa de sempre e por muita insistência minha e de Murillo, papai nos deixou ir até o clube, na condição de voltarmos às 10 :00 h.  Eduardo era muito pequeno e ficou com Luiza. Murilo e eu fomos para o clube e lá ficamos dançando e nos divertindo. Murilo, mais consciente, me chamou para ir embora na hora determinada por papai, ao que respondi que ainda era cedo e ficaríamos um pouco mais. Quando chegamos em casa, já era quase  meia-noite. Chegamos muito quietos e quando tentamos abrir a porta que deveria estar aberta, a surpresa :  papai estava sentado na sala nos esperando. As desculpas esfarrapadas não adiantaram nada e ele devagar, tirou o cinturão da cintura e claro , primeiro me pegou ,porque sabia que a responsabilidade era minha. Levamos umas boas cintadas na bunda, pela nossa desobediência. Só que eu estava com muita saia de armar e Murilo com uma calça grossa e não doeu nada. Eduardo e Luiza ficaram gloriosos porque não tinham ido e adoraram a surra. Murilo e eu ficamos dando risadas depois que papai saiu. Na verdade a surra foi só pra manter a ordem, porque papai não era de espancar filho.
                    Quanta recordação e que saudade desse tempo! Que criaturas maravilhosas eram nossos pais.  Como foram sábios em nos passar valores e como souberam proporcionar magia e encantamento na nossa infância privilegiada!  Papai , apesar de ser muito carrancudo , não nos impôs medo e sim respeito e mamãe, aquela criatura doce, frágil e emotiva, sabia manter a harmonia e o equilíbrio do lar !!!

Graça,junho/2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012


        SÃO  JOÃO  DA  USINA  TRAPICHE ( Os preparativos )

               Há muito tempo  atrás , num lugarzinho perdido na zona da mata sul do Estado de Pernambuco,  vivia uma família muito feliz  e eu fazia parte dela, o que me dá o orgulho de reviver esse tempo, relatando  para todos o que de especial  havia  lá.
               Assim começam os contos de fadas e a nossa vida na Usina Trapiche foi um conto de fadas, daqueles em que bruxas não tinham vez porque o amor reinava  e a felicidade era nossa grande companheira.
               Hoje , eu quero relembrar as nossas muitas festas de São João,  já que estamos tão perto da data comemorativa.  Volto ao refúgio mágico da nossa infância e tento  restaurar  com muito cuidado  as imagens  perdidas no tempo. São tantas e tão preciosas !  São um acervo  sem preço, sem  substituição, tombado  pelo nosso patrimônio familiar.
               Éramos  seis  crianças normais, peraltas  e felizes  , só isso !  Nessa época do ano, a  nossa excitação aumentava e ficávamos a mil por hora, esperando a festa de São João. Os preparativos começavam poucos dias antes.  Na frente de cada casa era construída  uma fogueira. Digo construída porque fugia aos padrões normais de tamanho e era uma verdadeira construção de madeira , a ser queimada na véspera do dia do santo mais comemorado do Nordeste.  Ficávamos acompanhando o trabalho  dos homens que empilhavam as madeiras, formando as enormes fogueiras  que se enfileiravam  em toda a rua. Cabia-nos a decoração que era feita com folhas de coqueiro  e algumas bandeirolas coloridas.
                Dentro de casa, em cima do guarda- roupas do quarto dos nossos pais, havia uma caixa  fechada, que sabíamos se tratar do tesouro  de nome  Caramurú. Ali , estavam  os fogos que receberíamos no dia da festa.  Papai os comprava todos os anos  e nós já esperávamos por isso.  As músicas juninas  tocavam freneticamente no rádio e nós aprendíamos todas com a maior facilidade.
                 O clube da usina promoveria o baile e a quadrilha era ensaiada com antecedência. Formavam-se os pares  e nós dançaríamos a quadrilha. Acontecia de nem sempre , a dama destinada a um dos meninos, ser a que ele queria e aí  tinha choradeira e um grande esforço de mamãe em fazer o insatisfeito  aceitar a sua parceira. Eu também dançava a quadrilha e como sempre odiava a produção de mamãe e Lia que prá começar  faziam aqueles cachinhos no meu cabelo , me deixando com cara de “ nega maluca”. Elas sempre inventavam alguma coisa que eu detestava. Para  mim , era suficiente o vestido de matuta ( caipira) e uma pintura na cara, como todo mundo fazia. Mas,  não !  As duas sempre queriam inovar e eu era a vítima. Uma vez queriam que eu usasse as botinas dos meninos e eu não achei graça nisso. Chorei muito, não queria mais  dançar, mas no final eu sempre pagava o MICO, por obediência. Naquele dia eu me  senti  a ridícula das ridículas !
                  Um dia antes da festa, todo mundo trabalhava, ajudando mamãe a preparar os quitutes.  Tínhamos   que descascar o milho com cuidado para não estragar as palhas , que seriam usadas  para envolver as pamonhas. As  espigas  eram  cortadas  com  uma  faca , debulhando-se todo o milho para fazer a pamonha , canjica e o famoso mingau de milho verde que papai adorava.  Tínhamos que moer os grãos na máquina de moer carne e ralar o coco para fazer todas as  gostosuras .  Dona Graça se esmerava na preparação de tudo e  só nós sabemos como era  maravilhoso. Não era trabalho, era pura diversão  e nós adorávamos fazer tudo aquilo.
                      Eram os preparativos para a festa que se avizinhava  e todos nós contribuíamos .    Dona Graça, a essas alturas , já tinha feito nossas roupas na sua velha máquina de costura e como sempre cantando e nos envolvendo no clima de felicidade que nunca vamos esquecer.   Ela e seu Abel sabiam como nos agradar e sem dúvidas marcaram prá sempre as nossas vidas, com essa devoção incondicional.
                      São muitas as lembranças, é imensa a saudade, mas é muito bom ter o que lembrar e trazer para o presente, as nossas alegrias do passado

Graça, junho /2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012


         DIA  DOS  NAMORADOS

         “Hoje é dia  dos namorados
           Toda terra está em  flor
           Só se vê menina e moça
           De braço dado com seu amor “

           Em mil novecentos e bolinha,  ou  seja no século passado, saudoso e cruel para quem nele viveu,  Já  havia o  DIA DOS NAMORADOS, só que namorar  era  pegar na mão, passear de braços dados , ir ao cinema com  uma vela de contrapeso, uns beijinhos e abraços tímidos na frente dos outros.  Isso era  namorar !  Tudo o mais era às escondidas. 
             Na primeira oportunidade  a sós ,  era  mão na mão,  mão naquilo, aquilo na  mão  e aquilo naquilo.  Quando  acontecia  uma gravidez  inesperada, ninguém sabia porque. Em geral, a VIRGEM pura e inocente devia ter sentado na tábua  de  um  sanitário qualquer  em algum lugar , onde  estava com certeza,  um  espermatozoide  perdido e,   assim se deu a fecundação. É , naquela época já existia inseminação artificial por obra e graça do Espírito Santo.  Quando uma moça casava, todo mundo fazia as contas quando nascia o primeiro filho, prá  ver se ela já não estava grávida. Gente, era muita perseguição e muito fiscal de xoxota  alheia !!!
             Os jovens da época , com os hormônios em ebulição, tinham que se controlar ao máximo  quando tinham oportunidade de uma esfregação.  O rapaz deixava  a namorada tremendo de excitação e se aventurava nos bordéis da vida,  se habituando ao sexo instintivo e animal, sem o menor sentimento, correndo riscos de doença e até de deixar por lá um futuro “filho da puta”,  pois que mulher dama também ficava grávida. Não havia anticoncepcionais, nem a pílula do dia seguinte que hoje salva os incautos.
              Quanto moralismo  barato !  Fingiam que  ninguém  transava !  Acho até que por debaixo das saias rodadas das mulheres de antigamente, não havia calcinhas para facilitar as coisas. Todo mundo fornicava escondido, por debaixo dos panos. Na época  “ lua de mel “ era realmente um  mel na lua. O  enfim  sós,  era a felicidade de poder fazer sexo permitido, e realmente curtir os prazeres da cama. Não havia motéis  e só  matéis  e carréis , o que dificultava  uma escapada prazerosa .
              Mudou muito, tudo mudou prá  melhor , ao meu ver.  Namorar ,  hoje em dia não é só prá menina e moça, é para todo mundo.  Velho também  namora, casados também curtem o dia dos namorados.  Tudo bem, que como outras datas comemorativas, o dia dos namorados também  tem  seu cunho  comercial e ainda se percebe  muita falsidade   comportamental, principalmente nos casais que estão na fase de reformular a paixão  e conviverem por amor.  Fui jantar com o meu marido, que num ímpeto de romantismo me levou a um restaurante, onde havia todo um clima para o dia. Fiquei observando os casais que alí estavam  e percebi que a maioria, estava cumprindo uma obrigação. Os casais que conversavam e curtiam o clima criado, eram muito jovens ou muito idosos. Todos estavam comemorando o seu dia mas os namorados eram poucos. Não havia muita animação.  Com certeza  os verdadeiros namorados estavam nos motéis ou nas baladas. Pensei que mesmo quem  não tem namorado, se arruma com um ficante, sem falar que as periguetes de plantão , estão aí distribuindo prazer para quem quiser. Ninguém ficou sozinho com certeza e graças a Deus as moçoilas de hoje não correm o risco de  chamegar  bastante com seus namorados e ficarem a ver navios enquanto eles  saem correndo em disparada para os braços de uma dama da noite.
                E assim percebe  quem viveu no século passado ,que as coisas mudaram no sentido da moral e bons costumes.  Namorar ,  hoje tem conotação muito diferente, tanta que até o estado civil das pessoas não tem mais a menor importância. Solteiro é só aquele que não tem ninguém,  casado  é quem  vive  junto  e todos  são  namorados ,  amados  e amantes , independente de orientação sexual , de idade e de compromisso , sem hipocrisia e sem frescura !  Prevalecem  o  AMOR  e a vontade de estar com quem se quer e  com quem   lhe faz bem !!!
                E um  viva aos  NAMORADOS  !!!

Graça,junho/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

CASAMENTO



              CASAMENTO

             Os tempos mudaram, a vida mudou  e nós  vamos  nos  adaptando  a tudo ,  embora  o saudosismo  não nos abandone.  Muita coisa perdeu a  graça , a  hipocrisia saiu de cena  e deu lugar à uma liberdade  consentida e de uma  certa   forma  saudável !  É, as máscaras caíram  e todos são mais espontâneos e autênticos. Acabou  aquela  história  de dizer que  fulana  não é mais  moça   e ficar  no exílio  do “caritó” , porque  homem  nenhum    comprometeria   a   sua macheza para casar com uma pobre coitada que se perdeu. Perdeu  não sei o que  ,porque na verdade ela se achou e se  tivesse juízo,  nunca  mais  seria achada.   O mundo   era  cheio   de “vitalinas” puritanas que prá não  darem o braço a torcer ficavam solteironas o  resto  da  vida, guardando prá S. Pedro , o seu tesouro roubado. Mas ninguém podia saber de nada.  Era tudo por debaixo dos panos. E assim, as teias de aranha se instalavam e pronto,  acabou.  Ninguém ousava  se rebelar contra o sistema prá não ficar falada.  Hoje  o que vemos é uma verdadeira bagunça  . Ninguém está se preocupando  com que  o  povo fala  ou deixa de falar e  não  tem mais essa de pedir a mão da moça ao pai dela porque já levou tudo mesmo.  Quem tem o que dar ,dá mesmo e está  tudo certo.  Virgindade   é  coisa  do  passado.     A moçada   sabe  tudo , conhece o sexo e vive  suas  emoções sem culpa. Os da “melhor  idade” não  deixam  de   viver porque  chegou ao  ocaso  da vida.  Todo  mundo   transa ,  fala-se  abertamente  de  orgasmo , procuram  o  ponto “G” e  ainda  tem  o  Viagra  prá  contornar  os  probleminhas dos que não conseguem”  bater continência” .Todo  mundo relaxa  e goza  com  alegria  e sem   encucação.    Até   as viuvinhas estão alegres. Claro, a vida continua e ninguém fica mais coberta  de preto  chorando um morto que às vezes  nem  era    essas coisas todas.  Nem  é  preciso  guardar o “pinto do falecido” para matar as saudades e os maridos de hoje morrem em paz. sabendo que não correm o risco de uma amputação e embarcam com todo seu machismo incólume.
                    No passado, a coisa era muito diferente.  Casamento  era a única opção  da  mulher que esperava um bom partido para ser o seu Senhor , com o dever precípuo de lhe  dar filhos e fazer o que ele queria. Na  cama , a mulher era tão respeitada , tão respeitada , que não sabia nem o que era um orgasmo. Ninguém  sequer  falava  nisso.    O homem ,    por  sua  vez , por  ser  um  safado   por excelência  ,dava vazão aos seus  instintos , procurando  fora os  prazeres  da  carne.     Era   um respeito muito louvável !   Macho nenhum   queria   uma puta  na  cama  do seu  lar.   E o  falso moralismo imperava.  A mulher  se submetia  e se achava a dama das damas.  Se  uma  esposa  infeliz  chorava  suas mágoas,  sempre  ouvia  um sábio  que dizia : “ Ruim com ele, pior sem  ele”. Por incrível que pareça tinha homem que não deixava a mulher raspar o sovaco, porque era coisa de prostituta.  É, não estou exagerando não, a coisa era feia. Hoje , a mulher não só depila  as axilas como tudo que tem pelo.  Outro  dia , perguntei  no  salão  o significado  do  que  estava  escrito  em  uma  placa de  depilação :  “ virilha, parcial , completa” . A moça achou engraçado e me explicou que completa era quando tirava todos os pelos , até do fiofó. Dei muita risada e fiquei a pensar no procedimento, que a mim, por certo incomodaria, mas há de se entender porque sou antiga e  recatada.  O homem deve se sentir um pedófilo diante de uma mulher sem pelos pubianos. Muito estranho prá minha cabeça , mas com certeza muito excitante.
                      Antigamente, cuidar dos filhos, era obrigação da mulher que tinha que se virar de todo jeito prá dar conta do recado. Trocar uma frada, fazer uma mamadeira ou levantar à noite não era coisa de macho e a mulher não tinha direito de ter por exemplo, uma depressão pós parto.  A gravidez era só dela e ponto final. Hoje , os homens fazem até cursos de pais , ficam grávidos junto com a esposa e participam de tudo que se refere ao filho . Lindo isto !!!   O casal vive o casamento com harmonia e participação ativa dos dois , tanto no que se refere aos afazeres domésticos quanto à questão de prover as despesas. O casamento passou a ser uma sociedade de fato, sem que prevaleçam direitos de um ou de outro.  A possibilidade de se desfazer facilmente proporciona uma relação mais aberta , uma cumplicidade maior e apesar de muita gente casar por casar, por força de uma paixão, os casamentos construídos com amor e objetivo de formar uma família têm tudo para o sucesso. A mulher não deixa de se realizar como pessoa , como profissional e o homem   moderno  não  se sente  ameaçado  com  seu sucesso. Essa , a parte boa do casamento de hoje.  O grande problema é a falta  de consciência de muitos, que não entendem a importância de uma instituição tão sagrada e importante , esquecendo que o casamento envolve vidas, deveres para com a família, a formação de um lar de verdade. Muitos priorizam o sexo, os prazeres da vida a dois , esquecendo a  compreensão mutua , o respeito, as abnegações, o amor verdadeiro e construtivo.
                   Olhamos com tristeza os desenlaces precoces, por falta de estrutura e de amor. É normal hoje em dia , os filhos não terem os pais presentes ,crescerem sem a figura paterna e sofrerem o descaso de muitos que não têm a noção de responsabilidade. A banalidade do casamento ultrapassa para muitos, as fronteiras  do entendimento  do que significa  uma relação  a dois, com o propósito de unir vidas e formar uma família. Estes partem para o casamento com a finalidade de ficar juntos, mas não se dispõem ao entendimento recíproco e fazem tudo errado, contando com a facilidade de uma separação. Nada os prende , porque estão envolvidos apenas, em uma  paixão fugaz.
                   É comum hoje, a teoria de “ não levar desaforo prá casa”  e “discutir a relação”, como se resolvesse alguma coisa. Ninguém, ao querer ficar junto, pensa nos defeitos do outro e nos seus próprios . Falta tolerância e amor. Quem ama de verdade, entende que as diferenças existem e respeita a personalidade do companheiro, procurando harmonia. Brigas, são normais, agressões não. A cumplicidade é mola propulsora para a realização dos dois. Não existe, nem nunca existiu casamento perfeito.   Existe  sim   casamento  duradouro  de  duas pessoas  que com sabedoria , sabem  cultivar o amor, que deixa de ser paixão e ao longo do tempo se transforma em amizade, em  compreensão  e  respeito,   uma  sociedade  onde  os direitos são iguais e admiração e prazer em estar juntos são reais. A felicidade é de cada um , não dependendo do que outro pode ou não dar. O respeito à individualidade de cada parceiro  é condição “sine qua non” para o bom entendimento.
                  Nos casamentos do passado ,havia a obrigação dos conjujes ficarem juntos  por uma convenção social. A hipocrisia era muito grande. Hoje, os casamentos duradouros são os verdadeiros, aqueles que perduram por amor, já que ninguém mais se preocupa com o que se pensa ou deixa de pensar. Apesar de banalizados , os de hoje são mais verdadeiros e mais felizes.
                 Como cantava  IVON CURI , da velhíssima guarda, contemporâneo de Caubi  Peixoto :   “Namorar é bem bom, namorar é bem bom, mas casar obriga- d- o- do.”  Tem muita gente que é melhor pensar assim e curtir sua solteirice, porque casamento não deixou de ser uma coisa séria e a família é a base de tudo !   Eu , por exemplo , gostei tanto que casei duas vezes, mesmo com um dedo podre para isso !!!!

Graça,junho/2012