quinta-feira, 24 de maio de 2012

CONFLITO DE GERAÇÕES


                   

                       Quando eu era apenas uma criança e estava submetida à autoridade de meus pais, nunca me ocorreu questionar as ordens e orientações que nos davam. Obedecíamos e fim de papo. E nunca me senti  infeliz. Está certo que de vez em quando , mijava fora do pinico e o coro comia. Pensar em me rebelar, jamais. Lembro que certa vez resolvi que iria embora , cuidar da minha vida, por não aceitar o jugo de Lia e mamãe, que não me deixavam ir prá casa das amigas, brincar. Revoltada com a situação, achei por bem, sair daquela casa e ir embora. Comecei a arrumar meus mijados e como não tinha uma mala, lancei mão de jornais velhos e já estava fazendo os pacotes desajeitados, quando minha mãe entrou no quarto e viu a cena. Ela se limitou a olhar a arrumação e esperou para ver até onde eu ia. Quando os pacotes estavam prontos, ela começou a rir e me abraçou carinhosamente, explicando o ridículo da situação. Minha intenção de fuga acabou ali e com o rabinho entre as pernas, arrumei tudo de volta nas gavetas e nunca mais se falou do assunto. Minha rebelião foi frustrada.  Faziamos mesmo o que nossos pais queriam e diga-se de passagem ,todos nós tínhamos a nossa personalidade preservada. Usávamos sapatos e roupas que eles podiam nos dar, escolhidos por eles e ficávamos satisfeitos. Ninguém ousava discordar de alguma coisa que fosse determinada  por eles. Havia hora certa prá tudo e muita disciplina. Enquanto éramos crianças funcionou direitinho.  Já na adolescência, quando começamos a ter mais informações, queríamos fazer valer a nossa opinião mas o velho cortava o mal pela raiz.
                       Uma vez adulta, eu achava que sabia muito mais que minha mãe e passei a tratá-la como se eu fosse a dona da verdade. Não a desrespeitava, mas achava que eu é que sabia das coisas. Com papai, também aconteceu o mesmo.  Quando tive meus filhos , tentei  impor as coisas e comecei a perceber que eles tinham vontade própria. Até certo ponto consegui comandar o cangaço, mas logo tive de aceitar que os tempos eram outros. Eu comprava as coisas que me agradavam mas eles simplesmente não usavam. O Marcio foi o pior. A principio não gostava de qualquer roupa e era machão desde pequeno. Os sapatos ficavam sem o cadarço porque não queria usar da forma convencional. Eu ficava uma arara porque não conseguia impor meu gosto. Com o tempo, não deu mais prá controlar essas coisas e cada um desenvolveu seu jeito de ser sem admitir minha interferência. Foram jovens com gostos próprios, rebeldias aceitáveis e na hora que extrapolavam eu sabia segurar as rédeas.Todos tiveram seus conflitos de adolescentes, suas insatisfações pessoais mas são todos , sem exceção filhos maravilhosos.
                          Hoje, o que vejo me dá arrepios. Estamos vivendo uma época de desajustes, de libertinagem, falta de respeito e de educação dos jovens para com os pais, professores e mais velhos. Fica cada vez mais difícil educar filhos e estamos diante de um caos social. Tudo caminha para uma falta de moralidade. Não me refiro à liberação sexual, que de uma certa forma é normal. Errado era conhecer o sexo apenas depois do casamento e ter que conviver com incompatibilidades porque estava casado. Errado era a hipocrisia de fazer escondido e não poder assumir . O que me agride é a futilidade dos jovens que se expõem irresponsavelmente a uma série de coisas maléficas que não levam a nada. A facilidade de informações, o consumismo, o excesso de liberdade estão corroendo o caráter dos nossos jovens que fazem o que querem sem freio de qualquer tipo. Tenho ouvido relatos de pais, que me assustam. Não sei onde vamos chegar!  O que será da sociedade futura ? O que será dessa moçada que curte baladas, regadas a bebidas e drogas , onde beijar muuiiiiiiiiito é ser o mais popular e especial, sem falar nas transas com quem nem conhece, na promiscuidade que se instalou no dia a dia desses jovens ,sem limites e sem noção de moral e bom senso. O fank desafia os parâmetros de comportamento social, fazendo apologia abertamente às drogas ao erotismo e à falta de compostura ignorando todas as regras de harmonia social. Sempre houve danças sensuais ,é verdade, mas o fank  não tem nada de sensual . É pura libidinagem, erotismo sem controle. As músicas são pornográficas e a mulherada  mexe e remexe a bunda sem o mínimo de pudor. Como se não bastasse, o sexo é explícito e crianças participam desses bacanais, como se fossem  a coisa mais natural do mundo.
                     É deprimente ver tudo isso acontecendo diante dos nossos olhos !  Não sou nenhuma moralista e até que compreendo muito bem a evolução dos tempos. Aprendo todo o tempo com os mais jovens e acho que as coisas tem que ser conduzidas sem  o falso moralismo dos tempos antigos ,em que as moças de família casavam grávidas e diziam que o filho nasceu de sete meses. Conheci uma que planejou isso e o filho nasceu com cinco meses de casada, porque na realidade se apressou e chegou mesmo com apenas sete de gestação. Foi um verdadeiro arraso. A família não sabia o que fazer.
                       Sempre existiram os conflitos de gerações, vez que cada dia o mundo muda, os valores mudam, as inovações são frenéticas e a vontade de acompanhar a evolução é imensa.  A necessidade de adaptação é nossa, dos mais velhos. Corremos o risco de ser considerados invisíveis , pelos nossos filhos e netos . Não sabemos nada de informática, de aparelhos digitais. Salvo algumas exceções, a maioria da nossa geração se atrapalha com as teclas e fica alienada diante de tanto progresso , enquanto as crianças dão conta de tudo, são altamente antenadas e nos ensinam a cada dia.
                        Enfim, o conflito sempre houve, porque o mundo vive em constante evolução, só que nós, que nos dizemos humanos, racionais e inteligentes, não podemos permitir que se instale novamente na nossa vida, uma  SODOMA ou GOMORRA, trazendo de volta  a depravação  que nos ameaça. Precisamos  chamar à ordem  os desmandos de uma sociedade que tem tudo para ser plena de conquistas e progresso. Precisamos  educar nossos jovens para que possam ser felizes de verdade !!!!

Graça,maio/2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O DIA DO QUILO

                  O  DIA  DO  QUILO

                 Estive pensando em como é bom ter um dia dedicado  a alguém. Todos nós temos um dia só nosso, menos eu que tenho  de dividir o meu com mais três da família. Tudo bem, não sou egoísta e faço festa prá todos com muito prazer. Fora o aniversário de cada um, ainda temos dias dedicados às mães ,  aos pais, ás crianças, às avós, aos namorados, às sogras e por aí vai.  Tudo muito justo e bem pensado. As  mulheres ,  essas tem seu dia internacional. Por que será ?   Acho que pela sua grande conquista  através dos tempos , se projetando como um ser pensante, inteligente e capaz , ocupando um lugar que lhe foi negado por tanto tempo. Até as LOIRAS estão incluídas nessa parada... ( brincadeirinha ). Dia do índio. Homenagem mais que merecida aos nossos verdadeiros brasileiros tão desrespeitados por tantos que não tem noção do que eles representam  na nossa história e cultura.  Dia da consciência negra. Muito louvável  a homenagem àqueles que fazem parte da nossa formação étnica e que tanto contribuem com sua influencia  cultural, com seu trabalho, com a sua capacidade para o desenvolvimento do nosso país. Todos nós somos um pouco índios e  negros ,  só que grande parte da sociedade rejeita  as suas origens e valoriza  a sua ascendência estrangeira.  Não existe preconceito para com os descendentes de  alemães ,  italianos, portugueses etc., Mas o preconceito com os negros e índios é uma vergonha. O japonês também foi muito rejeitado , no início de sua emigração, mas hoje já se fez respeitar.
                     Para se dedicar um dia a alguém ou a alguma  coisa , tem que se apresentar uma razão aceitável  para a população que engole tanto sapo e não pode fazer nada. Acontece que existe uma tendência muito forte em se confundir  BARAFUNDA com calça rasgada na BUNDA. No Congresso Nacional,   nas Câmaras Municipais, nas  Assembléias Legislativas, compostas de seres que nós ,” pobre e ignorante povo brasileiro”, colocamos lá , na certeza de que vão fazer alguma coisa pelo nosso país, na certeza de que vão atender as nossas necessidades e brigar pelos nossos direitos, há um bando de incompetentes que querem mostrar trabalho , criando leis idiotas como a que criou o dia do QUILO. É isso mesmo, o dia do QUILO.  A lei foi sancionada pela nossa PresidentA,  que no momento devia estar cochilando.  Achei incrível !!!  Apesar do meu esforço enorme, ainda não entendi o que isso trás de positivo para o nosso país  cheio de PAC, de Economia sólida, de Minha casa, minha vida, de bolsa família e de resultados invisíveis. O que será feito no dia 3 de novembro, o dia do QUILO?  Confesso que estou deveras preocupada !  Será que teremos que enviar relatório do nosso peso perdido ou achado no ano? Ou será que teremos que pagar alguma multa se estivermos abaixo ou acima do peso? Quá, quá, quá ... Tanta coisa importante a se fazer, leis que precisam ser revistas e atualizadas  e essa gente ganhando dinheiro prá criar leis idiotas. É uma verdadeira BARAFUNDA.  Mas não faz mal, temos que pensar que existe o dia da CAÇA  e o dia do CAÇADOR !
                  Sei que ainda vou ver muita piada de mau gosto  advinda desse  staff  alienado que só vê o próprio bolso. É lamentável  acompanhar tanta miséria, tanta violência, tanta corrupção, tanta injustiça, tanta falta de vergonha, de caráter, safadeza e não poder fazer nada.  Se tínhamos alguns princípios louváveis, alguma ORDEM e PROGRESSO, no nosso Brasil tão amado, foram enterrados junto com alguns que já se foram .  O que temos hoje é uma deturpação  de valores que ameaça uma geração inocente, condenada à ignorância e falta de educação, ao desapego à cidadania e à falta de perspectivas.  Uma minoria  terá condição de continuar  a luta pelos nossos valores  e tradições  de uma terra que tanto se empenhou pela sua independência e liberdade.
                  E nós, povo brasileiro, continuamos  OMISSOS  !!!

Graça,maio/2012

SONHO DE AMOR


                         Muito bom sonhar, flutuar, sentir
                         Ultrapassar  as fronteiras do possível,
                         Navegar num mar de ilusão, partir
                         Ir em busca de um amor incrível.

                         Transbordar  de paz e felicidade , 
                         Sem medo, sem qualquer limitação,
                         Sem preconceito, livre, sem idade,
                         Ouvindo apenas o que diz o coração.
                                
                         É bom sonhar, o sonho dos inocentes
                         Aquele que nos faz sentir o doce aroma
                         De flores , da brisa suave que vem do mar

                         É bom se livrar dos apelos insanos , doentes
                         Sair do real e se fechar numa  sutil redoma
                         Se dar o deleite  de ser amado e poder amar.

                         Graça,maio/2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O DIA EM QUE ESQUECI MEU NETO

                     O  DIA  EM  QUE  ESQUECI  MEU  NETO        

                    O alemão que me ronda não me traz esquecimento, ele faz questão de me manter alerta como um escoteiro.  Por um lado, isso é bom, por outro enche o saquinho de quem gosta de voar. Eu me sinto uma borboleta azul e meus vôos  não precisam de alucinógenos, se bem que sempre tive vontade  de experiências do tipo. Só que se eu der uma fumadinha na erva ou uma cheiradinha no pó, acho que ninguém nunca mais me acha. Deve ser muito bom esse barato, porque tem gente que está em ALFA desde muito e não pretende sair. Deve ser legal esquecer as responsabilidades e viajar pelas terras do sem fim, falar um monte de bobagens e se achar o máximo!   Sou usuária de uma substancia  incolor, inodora e que não se compra em qualquer bodega : vontade de viver intensamente o tempo que ainda tenho. Quem quiser que me critique e me chame de velha assanhada. Tudo bem , sou perua assumida e adoro tudo que brilha.    Perdi  muitos anos da minha vida lembrando de tudo e preocupada em manter tudo muito certinho. Hoje , eu estou pouco me lixando para essas coisas, “ Não importa se a mula manca, o que eu quero é rosetar”. Procuro fazer o que gosto e posso, porque também  não  virei “ mulher maravilha”,  pois  tenho  minhas  limitações claras e evidentes. Além de estar na  MELHOR IDADE, o corpo todo bichado, a própria ” Maria das Dores” , sou uma dura de carteirinha , sem um puto no bolso, mas feliz da vida.
                       Minha vida em família é engraçada. Na casa tem de tudo. Tem velho rabugento que de vez em quando incorpora um “Sargento Tainha” da vida que só dá ordens mas ninguém obedece, só estremece ; uma filha altamente intelectualizada e perfeccionista no que faz profissionalmente e desligada ao máximo, um adolescente que ainda não sabe se vai ou se fica e um garoto de 10 anos com cabeça de 80.  Faltou a minha descrição:  uma idosa com vontade de curtir o que gosta, mãe de todos e madrasta de vez em quando, cansada de ser dona de casa, irreverente, cheia de idéias mirabolantes e que esquece um monte de coisas por conveniência e se liga no que lhe faz bem. Agora , sou uma borboleta azul e tudo que quero é voar. Minha filosofia de vida é ser o que sou , sem máscara e falível, mas sem maldade.
                       A figura mais interessante da casa é o Henrique, o meu presente de aniversário que nos surpreende todos os dias com suas  observações de velho de 80 anos. Apesar de ter apenas dez anos , parece que já viveu mais do que todos nós.  Uma vez o avô gritou com ele porque não respondeu a uma pergunta que lhe fez , ficando calado. Chamei-o e falei que quando o avô perguntasse alguma coisa, prá ele responder. Aí ele me disse que não respondeu por que achou que fosse uma  PERGUNTA RETÓRICA.  Em outra oportunidade, eu estava de repouso por recomendação médica e ele foi deitar ao meu lado. Começou a conversar e me falou para ter um pouco mais de JUÍZO  e não fazer o que não devo. Disse-me que eu tinha que entender que a cada ano que passa eu perco 1% do meu juízo e que agora só me restam 32%, porque eu já perdi  68%.  Vê se pode ?   Numa outra ocasião, em conversa com a tia, minha filha mais nova, falando de não ter o pai presente, a tia prá consolá-lo disse que o filho dela também não tinha o dele, ao que  respondeu sem pestanejar :  - “ É , mas o Rafael já teve um monte de substitutos !”  Leila, ofendida retrucou:  - “ Você está me chamando de galinha?”  Ele se mete em tudo que é conversa de adulto e está sempre fazendo comentários do gênero!
                      No último Sábado, fomos todos a um centro espírita que freqüentamos e ele quis ir junto. Enquanto nós adultos fazíamos nossas preces e trabalhos, ele se juntava às outras crianças e brincava lá fora. Havia muita gente e depois que tudo terminou viemos embora e eu nem me  lembrei dele. Como a Leila veio  com o carro dela e trouxe parte do pessoal, não me preocupei.   Em casa, depois de determinado tempo, o irmão mais velho  perguntou :  - “ Vó , cadê o Henrique?”   Falei : - “ Não sei , ele não está aqui ?”  Aí é que nos demos conta de que esqueci o Henrique no Centro !!  Foi uma gargalhada só de todo mundo. Onde já se viu uma avó esquecer o neto?    Pegaram no meu pé e antes de tomarmos alguma providencia, chegou um nosso amigo com Henrique. Na hora de ir embora ele viu que tinha criança a mais com ele e constatou  meu estranho esquecimento. Fiquei completamente desacreditada e a partir de agora as mães vão ter muito cuidado porque não mereço mais a confiança delas.
                     Na realidade não estou preocupada em merecer confiança, porque já  perdi mesmo mais da metade do meu juízo, como falou o neto “ gênio”.  Já passei por tanta coisa que estou pouco preocupada se esqueci o neto e se descobri que o meu fiofó  agora se chama esfíncter e que ainda tenho que fazer  Strip tease   prá um monte de médico. Prá mim “ Tá tudo dominado” e esquecer um pouco até faz bem . Só não quero esquecer de sonhar e de viver!!!

Graça Peres, maio/2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

   Fazer o QUE ???
                 
              Quando a gente embarca  nas casas dos ENTAS  , começa a aceitar tudo , menos certas imposições que vem de cima , querendo nos obrigar a chamar presidente  de PRESIDENTA e outras tantas do tipo,  como  tenenta ,  atendenta, coronela .   Esse assunto já foi calorosamente debatido no Senado, quando a senadora Marta Suplicy chamou a atenção do Senador Sarnei que se referiu à Presidente da República como PRESIDENTE . O referido senhor explicou  o que e porque estava correto, mas não adiantou muito .                                                                                                                   ,           Eu  sempre   pensei que essas mudanças  vernáculas  fossem  feitas  por  gente preparada prá tal e não por um Congresso que de vez em quando solta  um  SEJE, ESTEJE, A GENTE  VAMOS,  NECROPSÍA, GRATUÍTO e etc.   Já é  muito difícil acompanhar as mudanças ortográficas de fonte competente , que se ignorarmos seremos apontados como analfabetos , como eu ,que faço uma confusão danada com as inovações.  O governo já nos enfiou uns livros didáticos com erros crassos  do tipo  “ OS LIVROS É... ou OS LIVRO...”  e outros disparates do Lulês do passado.  Meu neto chegou a discutir comigo que o livro estava certo . E agora José ?  O que vai ser da geração alfabetizada por essa gente sem noção. É um verdadeiro POBREMA  ou POBLEMA ! Já ouvi também dizer que ambas as formas não estão erradas e sim, menos usadas. Em vez de evoluirmos , estamos em plena involução  e isso já se faz sentir nos concursos e testes aplicados.  Ora , a  correção das  provas  deveria ser feita por quem  implanta  esses absurdos linguisticos. É duro ver tudo isso e ficar quieta . Já não bastam os vícios de linguagem  regionais que são difíceis de engolir, ainda temos que ser bombardeados por um besteirol de péssima qualidade. No rol dos vícios , me assustam as conjugações verbais cada dia mais infelizes. O verbo  PONHAR  é o mais frequente, não esquecendo  aquelas que doem nos nossos ouvidos como  :  “ se eu tivesse CHEGO,  se eu tivesse FALO, se eu tivesse MANDO , se eu tivesse   trago,  quer que eu FAÇO” e por aí vai.     
            Assassinamos a  nossa  língua  sem  a menor  preocupação de nos informarmos melhor.  Isso é lamentável e mais lamentável ainda é que essa orientação errada venha de quem deveria dar o exemplo, os poderes responsáveis pela educação. Onde está a assessoria dessa gente?  Eu , na minha insignificancia de “ Extrato de pó de peido do cavalo do bandido” , tenho um dicionário e uma gramática atualizados para consultas, procurando não errar tanto. Diante de tantas mudanças, fica mesmo difícil escrever ou falar corretamente. Até não me preocupo muito com alguns erros que cometo porque sou antiga e meu aprendizado foi diferente.  Na hora dos acentos circunflexos, agudos e sei lá mais o que , fico muito atrapalhada e prá falar a verdade acho tudo isso uma “merda”. Fazer o que?
                Não tenho a menor pretensão de ensinar português prá ninguém, mesmo porque já não sei mais nada, diante de tantas mudanças, mas não aceito a imposição do governo em ensinar  errado as nossas crianças que são o futuro do nosso país.  O computador corrige, é verdade, do mesmo jeito que a calculadora faz as nossas contas. E  assim , o ser humano se preocupa cada vez menos em usar a sua mente, que é muito mais poderosa que qualquer máquina que possa ser inventada. O português, dono do armazém da  esquina , punha um lápis atrás da orelha e fazia conta de cabeça. Virou piada. Hoje, a calculadora faz tudo sozinha e as pessoas não conseguem somar 2+2.  E o pior é que temos que conferir as contas.  Como? Não sabemos fazê-las  sem  a ajuda  da maquininha.
                A grande verdade é que ninguém precisa mais exercer um esforço mental prá nada. Quando acabar esta civilização, a próxima vai ter que descobrir como fazer o fogo,  inventar a roda e tudo mais . Os gênios vão surgir novamente !    Tomara que na próxima , o homem tenha mais  entendimento e sabedoria para não desprezar  coisas básicas como nós desprezamos. Enquanto isso , nós  ignoramos  princípios fundamentais  e atropelamos além da língua  pátria, uma série de coisas que fazem falta na nossa convivência em sociedade.
               As pessoas estão muito preocupadas com aparência , bem estar , consumismo e estão esquecendo de adquirir  mais instrução , mais preparo para o exercício das funções que lhes cabem. Isso envolve não só os conhecimentos técnicos, mas  conhecimentos gramaticais e literários , pelo menos , os básicos.  Procurar se expressar de forma razoável  não faz mal a ninguém. Eu    acho que o governo não tem que criar regras gramaticais absurdas modificando o gênero de determinadas palavras, prá justificar o desejo da  dona Dilma que quer ser chamada de presidentA.  Eu tenho que ser muito  PACIENTA com esse tipo de coisa, prá não ser enquadrada na Lei !!!

Graça,maio/2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

 
                 O  TEMPO E A BIPOLARIDADE

                 Na minha terrinha querida, no meu Nordeste distante, o inverno é chuva e chuva é bem vinda, porque a terra seca vai ser molhada, trabalhada e plantada. A chuva é vida , segura o sertanejo na terra , faz florescer o mandacaru , enche as cisternas, os açudes, sacia a sede do gado, cobre o pasto de verde, faz o sabiá cantar com mais força, enche de esperança a região. É a benção do céu que se faz presente, é a promessa de dias melhores, de uma colheita certa, de um ano menos difícil, a certeza de que os rios se avolumem , se encham de peixes e sigam seus cursos a caminho do mar. A natureza sábia mostra o seu poder de restaurar aquilo que parecia perdido. Não depende do homem  , a  reabilitação da terra. Não depende do governo que não quer ver o flagelo da seca e que há anos dorme, enquanto o povo nordestino enfrenta as dificuldades de sempre. É de se lamentar que o próprio nordestino que chega ao poder não procure uma solução, quando todo mundo sabe que ela existe. Por que não aprender com Israel ? Falta de vontade política apenas. O sertanejo não quer esmola do governo e sim solução para que possa continuar na terra , produzindo e colaborando com o crescimento da região. A seca sempre foi um ótimo negócio político, essa a verdade nua e crua.
               Enquanto a chuva não chega lá no sertão, castiga o Sudeste o ano inteiro. Como chove nessa terra ! Estou de saco cheio. Aqui no meu mato, onde me escondo há 26 anos, a umidade é intensa e a terra está sempre encharcada. As estações tão marcadas com datas, se misturam e fazem minha cabeça pirar. Na primavera, que deveria ser  um tempo agradável, chove , faz frio e são poucos os dias de sol. O verão é um horror. Chove todo dia , e as tempestades são assustadoras com a sua exibição de relâmpagos, raios e trovões , sem esquecer as chuvas de granizo.  Todo ano é um sofrimento para quem mora nas encostas ou tem que circular pelas ruas ,invariavelmente alagadas. O calor é insuportável, sem uma brisa que alivie.   Agora , estamos no Outono,  e o tempo ,prá variar, está chuvoso e frio. Na minha cabeça , já chegou o inverno. Não tem  quem   agüente  essa  instabilidade. Acho que o tempo aqui é “ bipolar “ como um monte de gente que conheço. Um dia , amanhece arreganhado, cheio de luz e alegria , no outro, se fecha e não tem acordo. Quando não chora, explode em trovões  apavora. O tempo , fica por conta da natureza e não temos o que fazer.  O indivíduo  bipolar, que convive conosco  e tem sua imprevisibilidade  neurótica e insuportável, que se trate ou se isole, porque ninguém merece.
              É isso mesmo. Uma comparação sem muito sentido, vez que comecei falando do tempo e entrei no terreno do comportamento humano.  Ser  “bipolar” é moderno e desculpa prá muita  trampa  que o ser humano faz por aí.  Aqueles que se permitem a falta de educação, de autocontrole, lançam mão de uma doença , fazem os outros de trouxas  e ainda acham bonito se identificar com a bipolaridade. Ambas as coisas, me deixam irritada e com vontade de procurar um lugar onde nada disso aconteça.  Onde ?  Não sei.  Só sei  que agüentar  um tempo que não se faz acreditar e alguém que muda a cada instante são duas pedras no meu sapato.  Quando a gente percorre uma longa estrada  e chega no ocaso da vida ,  tendo  que viver  sem a certeza do que será o dia seguinte, só tem uma saída :  virar uma borboleta azul e procurar uma estação favorável e a companhia de outras borboletas , escapando das bipolaridades  que nos afligem .
             O pior de tudo é que a gente faz um esforço enorme prá se melhorar, um exercício monstruoso para compreender  e se debate em  dúvidas.  Por que não morar na praia, com um sol  na cabeça e curtir o tempo que resta , fugindo da bipolaridade do tempo e das pessoas? Nem tudo é como queremos  e a saída é se adaptar àquilo que temos. Enfim  chegamos à conclusão que todos somos instáveis  e difíceis como o tempo  que nos obriga a mudar de roupa e de atitudes a toda hora.  Quando o frio não açoita nosso corpo, se instala no nosso coração que é bipolar por excelência.  O meu , coitado, não sabe se chora ou se dá risadas e dança conforme a música. Às vezes tenho uma valsa suave e linda que me leva aos vôos  que adoro fazer, às vezes ouço um rock pauleira que me deixa a mil por hora, sem juízo e com vontade de correr. É muita confusão na cabeça de uma Maria Bonita que se atreveu a sair do seu chão e enfrentar o desconhecido !!!

Graça, maio/2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O ABRAÇO

    
                       O  ABRAÇO

                De todas as manifestações de carinho, o abraço é sem dúvida a que melhor representa o sentimento por alguém.  É através dele que transmitimos e nos são transmitidos toda a energia, calor humano, sensação de proteção, de amor , de amizade, tudo que precisamos para preencher nossa alma naquele momento.  O envolvimento corpo a corpo, reflete a vontade de passar o nosso sentimento com vontade de dizer, sem precisar nada dizer. Expressa por si só a alegria do encontro,  a vontade de estar perto, a saudade sentida.    Há na nossa vida, momentos em que o abraço, nos conforta, nos dá forças, nos alivia e nos encanta.
               Comigo acontece com as pessoas que não posso ver porque estão distantes, mas ainda neste mundo e com aquelas que já se foram, de volta da sua viagem expiatória. Essas pessoas queridas que não podemos  mais ver, nos visitam em sonhos e quando nos abraçam, nos enchem de felicidade. Isso nos faz acreditar na força espiritual de um abraço.
               Sonhar é comigo mesma.  Os meus sonhos são como se eu tivesse uma outra vida, em que as pessoas que a povoam são além dos entes queridos, pessoas que não conheço e que fazem parte desse universo desconhecido.  Chega a ser engraçado, porque existe uma sequência  de atos e fatos que já aconteceram e outros totalmente estranhos ao meu mundo aqui. Vez  por  outra  entro  nesse  mundo   que  é  tão  real  e  fascinante  ao  ponto  de  me confundirem as idéias.  Logo eu , que sou uma grande sonhadora, até acordada,  me perco nos meus sonhos e viajo na maionese, faço planos , conquisto o inconquistável e ainda me dou o luxo de fazer coisas que ninguém em sã consciência se atreveria a fazer. Não  falo de fantasias eróticas, coisas do tipo . Isso não acontece comigo. Às vezes me acho um tanto assexuada , quando escuto  esse tipo de relato. Prá mim, o sexo não precisa de fantasia . Ele acontece de forma natural , sem necessidade de motivação extra. Bom , esse é um assunto que não tenho muito a falar e deixo para os sexólogos de plantão. Afinal , cada um é dono das suas verdades  e  faz o que mais lhe apraz.
               E sonhando, vou preenchendo minha alma de coisas boas e de encontros maravilhosos .  Uma noite dessas, sonhei com pessoas da minha família e no sonho estava meu irmão  Carlos, o segundo da ninhada de dona Graça e seu Abel, que já nos deixou há uns dois anos e que era uma pessoa muito importante na minha vida. Ele foi prá mim um exemplo de humildade e de sabedoria. Não se projetou nesta vida como profissional, não se preocupou em ter  e foi a pessoa melhor que eu conheci . O seu jeito desprendido, sua teimosia e sua necessidade de ser meio ermitão , talvez não tenha feito bem a quem dele dependia e com ele convivia. Era um introspectivo, quieto  e um tanto  carente de isolamento.  Como pessoa, espiritualmente falando , foi um exemplo de bondade  e de amor.  Pois bem, encontrar essa criatura, mesmo em sonho, já é um presente.  Receber um  amplexo desses que a pessoa suspende a gente e roda, com aquela alegria de rever, é mais que um presente, é algo sem explicação. Acordei com a sensação daquele abraço e a conservo comigo de uma forma especial.  A saudade é com certeza aliviada num abraço dessa natureza e a presença da pessoa querida se faz sentir mesmo distante.
                Assim , vou abraçando quem eu gosto e aqueles que quero gostar e que me gostem. No abraço, podemos até mudar um pensamento, quebrar uma hostilidade e de repente expressar  o sentimento que nos vai na alma. Dessa forma , sintam-se abraçados ,todos aqueles que precisam de um aperto  tão precioso, que tanto bem pode fazer a quem  espera por ele. Nunca abracemos por abraçar, pensando sempre que através do contato , passamos amor, carinho, força e energia e recebemos também tudo de volta. Enfim , a troca é intensa e mais importante que qualquer palavra. O abraço fala por si só !!!

Graça, maio/2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

NOITES DE MAIO




       
            Maio está chegando e me trazendo de volta as recordações de muitos  MAIOS  da  minha infância privilegiada. Viver na Usina Trapiche, aquele lugarzinho cheio de sol e doce aroma do açúcar sendo produzido, foi um dos presentes que Deus me deu na vida.  Outros presentes vieram :  as pessoas que fizeram e fazem parte da minha existência  e que talvez eu não seja merecedora  delas.  Mas  os anos que vivi naquele pedacinho de céu, considero um presente de graça, daqueles que a gente recebe, mesmo sem merecer, o paraíso concedido aos inocentes e puros de coração. Valeu meu Deus ! Foram tão maravilhosos que se transformaram no meu maior tesouro . Hoje, me cabe a obrigação e o prazer de falar dele, mesmo quando o meu coração está  triste.
                    O mês de maio na usina era de muita animação e homenagem à nossa querida  Mãe do céu, MARIA de todas as dores , de todos os amores, MARIA  de bondade, de socorro,de pureza , MARIA  MÃE  do nosso  JESUS.  A devoção de todos e nossa inocência de crianças , com certeza  foram muito bem aceitas por Ela.
                     Quando chegava o mês de maio, cada família da usina recebia uma noite para prestar a sua homenagem à Virgem Maria. Cada uma se incumbia de ornamentar a nossa pequena capela , que era no grupo escolar, para o terço , cantos e orações que seriam feitos à noite. Criava-se um tipo de competição para ver quem fazia mais bonito  e o que valia mesmo era a criatividade de cada família. Não tínhamos os recursos da cidade grande, não havia onde comprar flores, a não ser que fossemos buscá-las fora. Só que tínhamos outros recursos : todas as casas tinham jardins e a natureza sempre nos dava as suas flores e plantas.  Ficávamos na expectativa  de como seria cada noite e nunca ninguém decepcionava. As paqueviras vermelhas, colhidas no mato, os gladíolos, as hortências, rosas , flores do campo, cravos , cravos de defunto, bastões do imperador, rosas e até as flechas de cana, enfeitavam a nossa capelinha , deixando-a sempre festiva.  O que me encantava mesmo eram as flechas de cana na decoração e as folhas de eucalipto  no chão, fazendo um tapete perfumado. Isto, eu sei que nunca mais vou ver na minha vida, não com o mesmo encanto. Mamãe gostava muito de gladíolos e das flores rosas da sua “mimo do céu”. Ela sempre lançava mão das avencas e samambaias. Cada noiteiro tinha a sua preferência e sempre conseguia um efeito surpreendente.  Havia aqueles que iam a Recife buscar flores mais sofisticadas e com certeza conseguiam  um efeito diferente.
                O mais importante , sem dúvida era a fé e necessidade de cada um em oferecer o seu melhor à nossa MÃE tão querida e abençoada.  Isso não tinha preço e transformava  o mês de maio em um mês festivo e de encontro diário com todos do lugar. O coro de vozes femininas  soltava a garganta e enchia de cantos lindos a nossa capela.  Santinhos eram distribuídos pelo dona da festa e tudo era sonho.
                 É muita saudade no meu coração e muita tristeza em  ver que as pessoas perderam essa devoção e essa necessidade em elevar juntas  as  suas preces e homenagens  àquela que significa tanto nas nossas vidas.  Lembramos  dela sim, na hora do sofrimento, da agonia e ela sempre nos atende e se faz presente, enchendo nossos corações de esperança e conforto.
                Crianças que éramos , nessa  época, ficávamos realmente encantados  e  aquele céu azul de papel ou pano, cheio de estrelas de areia prateada, que hoje achamos tão brega, era lindo aos nossos olhos e tudo era brilho, cheiro de flores e velas, muitas velas iluminando as nossas  vidas  e as nossas almas !!!!

Graça,2012

O FRIO ME DÁ BANZO


                   

                    Começou o frio e mudaram  os nossos  hábitos. A partir de agora, temos que abrir os armários, revirar os guardados , achar nossos agasalhos e nos proteger.  Fazer o que ?  “Deus dá o frio conforme o cobertor”.  Até concordo com isso em determinadas situações,mas quando se trata do frio que nos castiga nessa época, nem sempre se tem o cobertor adequado.
                    Quantas pessoas não tem uma cama quentinha, uma bebida quente e roupa que aquece .   Quantas não estão nas ruas entregues à sorte e às vezes morrem de frio? Nem sempre nos lembramos disso e  reclamamos ,  mesmo agasalhados e abrigados ! Há os que se preocupam e fazem as campanhas do agasalho e da sopa. São os  anjos ,” o cobertor” que provavelmente , DEUS manda para socorre-las.
                     Eu, como boa nordestina que sou ,  acostumada com um clima tropical, sem mudanças radicais, não me acostumo em não ter um sol maravilhoso brilhando todo dia.Hoje, por exemplo, o tempo está horrível. Chove e no meu retiro, no meio do mato, está tudo molhado e a gente não tem vontade de fazer nada. Ficar na cama, não dá porque tenho que fazer minhas coisas de rotina e ninguém quer saber se estou com  frio e desanimada.  Todo mundo quer almoçar. Ainda sou uma privilegiada, porque não tenho que sair prá trabalhar fora, enquanto outros enfrentam as intempéries e vão à luta. A “ melhor idade” me faz ficar em casa. Pelo menos isso ela me dá de bom!
                      Na realidade , o que me desanima é a falta do sol. Não consigo me acostumar com a falta do sol, do mar , de andar descalça, de caminhar na praia. Essas coisas fazem muita falta na minha vida e a nostalgia me invade a toda hora. Não significa que eu esteja infeliz, só com muito banzo. E isso é mais forte quando o frio aperta. Aí eu penso : ser velho é uma porcaria mesmo. No frio , é dor daqui, dor dalí , coração apertado, falta de disposição. No calor, o mal estar , a pressão descontrolada , o cansaço, a sudorese. Nada está bom, nunca. O que me resta é o tempo para abrir o baú e rever o passado , as coisas boas que vivi e procurar reviver tudo com amor. Por isso, estou sempre voltando lá e trazendo para o presente tudo de bom que guardo  na memória.
                      A vida é isso mesmo. Numa fase vivemos e na outra revivemos. Graças a Deus posso fazer isso com alegria, já que tenho muita coisa preciosa para recordar e não me arrependo de nada que fiz ou deixei de fazer porque sempre fui uma pessoa bem intencionada, apesar de saber que “de boas intenções o inferno está cheio”. Às vezes , as nossas boas intenções são mal interpretadas e a gente quebra a cara. Mas isso faz parte da vida e cada um  sabe de si. Enquanto o corpo sente as agruras da maturidade , o espírito consegue ver com mais clareza o que acontece à nossa volta e procura o equilíbrio e a sabedoria que o tempo nos dá. Hoje, eu sou uma idosa alegre e irreverente, que procura viver com harmonia e compreensão.  Não gosto nem um pouco de estar na “ melhor idade”, mas tenho tentado aceitá-la, com restrições é claro, porque ela me limita e me impede de fazer algumas coisas que gosto.
                      Já que cheguei até aqui, dou graças a Deus pela oportunidade de estar de bem com a vida, satisfeita com a minha prole, com as conquistas de cada um . Só não gosto de não ter o sol prá me aquecer nesse frio e de estar cada vez mais distante da minha terra, do meu povo, das minhas origens !!!

Graça,maio/2012                   

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O ESCARAVELHO AZUL


                       

                       Há alguns anos atrás , em uma das minhas viagens a São Paulo, um amigo que não está mais entre nós,  o meu cicerone vip, que sempre me levava  a conhecer os lugares interessantes da cidade, me apresentou  o MASP  e  no seu pátio  a famosa feira de antiguidades.  Éramos muito ligados em arte e artesanato e sempre procurávamos lugares , onde houvesse coisas do tipo.  Ficamos horas , olhando aquelas peças antigas e raras e nos deliciando com tanta coisa curiosa.  Eu fiquei  encantada com uma pulseira  egípcia  cheia de escaravelhos azuis e procuramos saber sobre o significado  do besouro , sua importância como amuleto e tudo a respeito.  O meu amigo, diante da minha paixão pela peça , resolveu me dar de presente, o que naturalmente adorei e coloquei  no pulso , usando-a  sempre.
                      Num determinado dia , em meu trabalho, atendi um cliente que era egípcio e ele me  perguntou porque eu estava usando aquela pulseira de escaravelho. Disse-lhe que foi um presente e que a tinha como amuleto de sorte. Ele não comentou mais nada e o assunto morreu ali. No mesmo dia, pouco depois da conversa, um escaravelho se desprendeu  e  caiu no chão. Recolhi o bichinho e como a pulseira era grande, deu para reduzi-la, deixando fora a peça que se desprendeu.  Pensando em um dia colocá-la de volta,  embrulhei num papel de seda e a guardei numa gaveta, esquecendo dela.  Pouco tempo depois, era mês de outubro e eu estava muito cansada e como fazia tempo que não tirava férias , pedi uma semana para passar na praia. Fui com a Leila , que era pequena e a Lia prá São José da Coroa Grande, uma praia linda do litoral sul de Pernambuco.  Um senhor, amigo meu, me emprestou sua casa à beira mar, e nós passamos uns dias nessa praia paradisíaca. Foram dias muito gostosos e inesquecíveis , até porque lá eu perdi a minha preciosa pulseira.  Não me dei conta a princípio e quando percebi a perda, fiquei triste ,mas não tinha o que fazer.
                     O tempo passou e até esqueci  da pulseira e do escaravelho que havia guardado. Um  dia , fui ao Rio , na casa de Vilma e ela me  chamou para  visitar uma  senhora  amiga.    A referida senhora era uma dessas pessoas videntes que olham prá sua cara  e dizem um monte de coisas da sua vida, sem nunca  ter visto você.  Deixei que ela falasse e em dado momento , ela me disse  que eu tinha que  me livrar de um besouro que  estava em uma gaveta de um móvel  da minha casa e que esse  besouro  era do mal e toda noite ele circulava pela casa e estava me prejudicando. Fiquei  atônita porque não tinha a menor idéia do que ela estava falando. Ela insistiu e disse que eu tinha que pegar o besouro e jogar num lugar longe de mim, onde eu nunca passasse por perto.   Achei que a mulher estava viajando, com uma história tão esquisita.  Fomos  embora dalí  e eu muito encucada,  fiquei quieta  porque afinal , era  uma senhora  amiga de Vilma, uma pessoa  em quem ela confiava e acima de qualquer suspeita.
                      Aquilo não me saía da cabeça e eu não parava de pensar no assunto, até que ainda no Rio, me lembrei da tal pulseira de escaravelho e resisti na hipótese de ser o presente que me foi dado por alguém que gostava muito de mim. Não podia ser isso e pedi a Vilma prá ir de novo na casa da sua amiga e falei da pulseira que há muito ,não estava mais comigo. Ela insistiu e disse que o besouro estava na minha casa e que eu precisava me livrar dele. E agora ? O que fazer?  Voltei prá Recife e depois de algum tempo, me lembrei que eu havia guardado um pedacinho da pulseira.  O pior é  que eu  não sabia onde o havia  guardado e pus-me a procurá-lo  desesperadamente e  fiz o que  ela mandou.
                     Não  entendendo  o   porque de tudo  isso, passei  a  pesquisar a respeito e na realidade, nada tinha a ver com o escaravelho  e sim com a energia  que estava  na pulseira que tinha pertencido a outra pessoa e sabe Deus o que continha nela.  Fiquei muito impressionada com isso e passei a ter o maior cuidado com os objetos que  pertenceram a  alguém que não conheço.  Aprendi que somos energia pura e  impregnamos  essa energia em tudo que tocamos. Se a energia não for boa, do bem , podemos  até adoecer  ou ter outro tipo de problema.  Quem é afeiçoado a objetos antigos que foram de alguém desconhecido, precisa antes  de tê-los perto,  neutralizar a energia neles contida, simplesmente fazendo uma prece e se for o caso lavar com bastante água.  A prece  e a água tem o  poder de  limpar qualquer energia  negativa  que esteja  contida nos objetos.
                       Este é um “ Causo”  que aconteceu comigo  e  confirma  que  há muita coisa que foge ao nosso pobre entendimento !!!!

Graça, maio/2012