quinta-feira, 5 de abril de 2012

PELECA, A NOSSA MASCOTE DE ÉBANO



                 Há um  dito popular da minha santa terrinha, cheia de coqueiros , que  diz  :   “Quem é besta  é coco, que tem  três olhos e acha pouco “.   Como toda expressão  de cunho popular , se refere naturalmente a alguma coisa e no caso aos gulosos de carteirinha,   aqueles  que  sempre  querem  mais alguma coisa além do que tem .
                  Dona Graça, aquela santa criatura , nada ambiciosa,  era  assim  quando se tratava de  criar filhos.  Ela  tinha  seis  e achava pouco.  Sempre queria mais um  e  tendo chance criava  o que viesse .  Era a verdadeira  Mãe Natureza,  sempre com o coração aberto para mais  um. Como era desprendida  a nossa mãe !  Quanto bem fez a tantos que passaram na nossa vida !  Perdemos a conta dos seus  aderentes.  Lia veio primeiro e é nossa irmã de coração. Depois vieram outros  como Maria Brejeira, Serrate, Biu, José, Báu e os que não chegaram a marcar. Afilhados, ela tinha às pencas.  
                   Numa  determinada ocasião, ela soube que tinha uma mulher  que morava para os lados da rua do Céu ,( uma rua que ficava no alto de um morro atrás da usina ) que estava muito doente e que não tinha ninguém que cuidasse dela , apesar de ter muitos filhos e alguns já  crescidos.  Mamãe foi até lá e constatou que a pobre criatura estava realmente muito enferma  e desesperada com a possibilidade de morrer e deixar aquela filharada sozinha. Compadecida com a situação, mamãe passou a ir todos os dias até sua casa e ajudá-la. Não lembro qual era o mal daquela mulher mas sei que em pouco tempo ela faleceu, mas antes pediu a mamãe que ficasse com sua filha de uns 7 ou 8 anos.  E mamãe atendeu seu pedido ,levando a menina prá nossa casa. Ela era uma  negra muito magrinha, de dentes muito brancos  e muito sapeca.  Seu nome era Serrate  e logo foi apelidada por Carlos de” PELECA”, por conta  de Pelé, que na época, começava a aparecer no futebol.
                    O apelido pegou e nós só a chamávamos de PELECA.  Mamãe achava maravilhoso vesti-la toda de branco, com roupa muito engomada, cheia de saia de armar e nossa  garotinha nos acompanhava nos passeios de Domingo.  Prá mim , ela foi a cobaia do meu aprendizado de costureira. Mamãe cortava  blusinhas  e shorts  e eu costurava.  Na praia, ela com aquelas canelinhas finas  corria e brincava no mar , maravilhada com tudo. Era a nossa mascote de ébano , cheia de graça e muito esperta. Mamãe a adorava !
                     Um dia , Luíza precisou fazer uma pequena cirurgia no olho porque teve um cisco cravado na pupila e isso só podia ser feito em Recife.  Serrate, que nunca sabia dar um recado e sempre nos fazia rir porque trocava as bolas e entendia tudo errado , encontrou uma amiga de Luíza que lhe perguntou dela. A resposta veio de pronto  :  “ LUIZA  FOI  PRÁ RECIFE PORQUE TEVE QUE TIRAR UM CISCO DA MICULA”.   Naturalmente, a interlocutora  não entendeu nada e só depois ficou sabendo do que se tratava.  Prá quem não sabe o que é MICULA, trata-se  daquela parte gordinha que fica em cima da CLOACA da galinha e que é muito apreciada por muitos. Rimos muito dessa história e eu até já havia esquecido. Mas o meu grande colaborador  das memórias  , o Dr Paurá , ( meu irmão Duardo) me refrescou as idéias.
                         Serrate ficou conosco um bom tempo, depois induzida pela irmã mais velha, resolveu se mandar, fugindo de casa, quando já era uma mocinha. Acho que preferiu ter uma vida mais solta e mais livre como ficamos sabendo depois. Mamãe  quase morreu de chorar, decepcionada com a rebelião da sua protegida. É uma pena que as coisas não sejam como a gente espera  !!!   Só espero que ela tenha encontrado a sua felicidade !!!
                          Dona Graça não desistiu e continuou  sendo  MÃEZONA  .

Graça,abril/2012

2 comentários:

  1. Dona Graça, agora entendi uma coisa... a senhora é xará da sua mãe!
    Quantas histórias lindas trazes da infância!
    Sou muito apegada a família e adoro histórias familiares. A impressão que tenho é que antigamente o estilo de vida pacato permitia as famílias serem mais unidas. Era uma vida muito mais simples e difícil, e talvez por isso as pessoas eram menos individualistas, os valores eram mais sólidos. Minha avó teve 11 filhos, e minha mãe também tem ótimas lembranças.
    Quero aproveitar para agradecer sua visita no meu blog, fiquei super feliz.
    Obrigada por este carinho tão espontâneo. Lendo seu blog aprendi a admira-la, e fico honrada com sua amizade.
    Admiro sua guarra, sua sensibilidade e seu bom humor. Ainda bem que a Internet nos presenteia com pessoas como a senhora.
    Beijo grande,
    Dilti

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    1. Obrigada Dilti.
      Eu procuro viver um dia de cda vez, tentando não trazer amarguras do passado. Tenho necessidade de ser eu mesma e desprezo formalidades.Sou uma pessoa feliz e quero que as outras aprendam a ser também.Problemas, a gente sempre tem mas precisa tentar resolver sem sofrer muito.Quero rugas de rir. É difícil mas a gente consegue.
      Muita luz prá você!
      Beijo
      Graça

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