terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carlinhos

            Meu querido sobrinho, no seu aniversário, quero lhe dizer que tem sido maravilhoso, encontrá-lo todos os dias, saber da sua vida aí no além mar, numa volta às origens da nossa familia. Foi aí que tudo começou e sabemos um pouco da história porque um nosso parente registrou muita coisa do nosso passado. E olha que tem história ! Vale à pena ler o livro de Edgardo Pires Ferreira, A Mistica do Parentesco.
            Parece que foi ontem que corri até a Maternidade do Tricentenário, em Olinda para integrar a comitiva de recepção de mais um Peres que estava chegando. Fiz de tudo prá entrar no centro cirurgico e Vilma, como médica, me infiltrou no recinto, disfarçada de academica de medicina. Vesti a roupa adequada e entrei tremendo nas bases.  Ao primeiro cheiro de éter, achei que ia desmaiar mas a vontade de vê-lo chegar foi maior que minha fraqueza. Quase morri de desespero quando vi aquele bebê pretinho , sem chorar e logo incentivado por Vilma a dar o seu grito de guerra. Grande alívio e daí prá frente foi tudo uma festa. Você acabava de chegar ao mundo,lindo e saudável, um pedacinho de todos nós,
             O pouco que estive perto de você, pude observar seu jeitinho maroto de uma criança esperta e saudável e lembro de uma mania sua que ficou muito marcada na minha memória. Uns dias que vocês passaram lá em casa, em olinda, foram muito gostosos. Você era muito pequeno e furava todos os pães para comer o miolo. Era engraçado, porque o pão ficava inteirinho, mas furado. Prá mim, era um favor que me fazia porque eu gosto de pão sem miolo, " pão doido" como falava papai.
            A distância não me permitiu vê-lo crescer, mas sempre o acompanhei através do seu pai, aquela criatura maravilhosa que nos deixou você de presente . Grande legado que não quero mais perder de vista!
O amor que ele e sua mãe tinham por você, a educação que lhe deram, com certeza fizeram esse homem sensível, bom caráter, afetuoso e digno que é. Tenho muito amor por você , mais um filho que Deus me deu.
Quero que saiba que sempre vou torcer por você e vibrar com as suas conquistas. Eu lhe desejo toda felicidade do junto à sua Mirela e espero que consiga realizar todos os seus sonhos.
             Estamos distantes mas tenho você no meu coração e estou muito feliz de ter sempre notícias.
             Um beijo no seu coraçâo e muita, muita vida, muita saúde e muita alegria para você !!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Murilo, 70 anos

             Meu irmão, 70 anos é muito tempo prá quem tem apenas 20, mas ainda não é suficiente prá se fazer tudo . Precisamos de mais tempo para ver os nossos netos crescerem, nossos filhos conquistarem o seu espaço, para comemorarmos com eles, as suas conquistas e para vê-los felizes e realizados. Precisamos de mais tempo, para saber se sabemos;  para compreender porque viemos e para onde vamos;  para valorizar o que tivemos e o que construimos;  para entender o que somos e o que fizemos;  para saber que o acaso não existe e que tudo acontece, porque fazemos acontecer, encontramos quem queremos encontrar e descartamos quem não queremos que fique. Aos que ficaram, precisamos de tempo, prá lhes dizer o quanto  os amamos e porque os queremos perto.
              70 anos são 25.550 dias de vida, um depois do outro, sem volta. Uma coleção inestimável de  dias em que você teve que ser, ter e fazer aquilo que lhe foi destinado. São 25.550 páginas escritas por você, um livro que ficará na memória dos que o sucederão. E eu tenho certeza que as coisas positivas são de maior peso. Sei da sua capacidade e integridade, da sua sabedoria, do seu coração enorme, do seu sorriso farto, do seu carisma desde pequeno, da sua força, do seu amor imenso pela familia, do seu caráter, da sua generosidade, da força de sua amizade. Sei  tudo de você e posso dizer sem mêdo de errar que você é um GRANDE HOMEM que eu admiro e respeito, independente do meu amor de irmã.
              São 70 anos bem vividos, dos quais apenas uns 13, ficamos juntos, mas tempo suficiente prá solidificar a noção de amor e de união familiar. Fomos privilegiados de ter nascido de pais que nos passaram os melhores princípios, que nos deram anos de ventura e sonho, nos permitindo ser crianças livres e felizes.
Nossas memórias de infancia são um verdadeiro tesouro que nada pode destruir. Acho que todos nós, os seis, vivemos num paraíso muito presente nas nossas vidas, apesar do tempo. Com certeza, essa infância rica foi o alicerce das nossas vidas. Partimos muito cedo para o mundo , mas não podemos alegar que estivessemos despreparados. Imaturos talvez, mas com entendimento do certo e do errado. Se algum de nós não conseguiu chegar onde queria, não podemos dizer que foi por culpa de nossa criação,dos nossos pais ou qualquer coisa que o valha. Cada um foi responsável pelos seus atos, cada um escreveu as páginas de sua história. Cada um é ou foi feliz a seu modo.
              Hoje, você comemora uma data expressiva  e eu gostaria de estar perto, aplaudindo e cantando parabéns, junto de Vilma , sua companheira de toda vida e dos seus filhos e netos, que certamente estarão fazendo a maior festa. Com certeza, os amigos e parentes vão estar presentes, todos na maior alegria, homenageando-o como merece.
               Quero erguer uma taça e fazer um brinde especial, desejando-lhe muita vida pela frente, com amor, com saúde, curtindo tudo que você gosta, junto a todos que ama. Quero que seja muito feliz e que seus sonhos sejam sempre coloridos e cheios de luz. Quero ainda  que sejam de festa todos os seus dias e que no seu coração, haja lugar apenas para sentimentos maravilhosos como a alegria do dever cumprido, a certeza de que a colheita está sendo da melhor qualidade. Quero, além de tudo, dizer que tenho muito orgulho de ser sua irmã e que o amo com todas as forças do meu coração.
                Deus o abençoe e esteja sempre presente na sua vida !!!

Casamento de Dona Graça e Seu Abel

               Falar dessas duas figuras tão importantes é um prazer enorme, apesar da saudade e da certeza de que não as verei mais nesta vida. Falar do passado é assim mesmo; buscamos as lembranças bem guardadas no baú e tentamos transformá-las em imagens reais, às vezes desbotadas pelo tempo, ou arranhadas pelos lapsos de que somos acometidos ao longo dos anos.
               Necessário se faz dizer que, o que  vou relatar aqui , são coisas não vivenciadas por nenhum de nós, visto que se tratam de fatos ocorridos antes de nosso nascimento. São lembranças do que os dois contavam das suas vidas e que ficaram gravadas na minha memória, retalhos da vida deles.
               Mamãe , orfã aos 10 anos, foi adotada por um tio, irmão da sua mãe, o tio Virgilio, que a tinha como filha, criando-a e educando-a junto de sua filha Luiza ( tia Luizinha ), que mamãe amava como irmã. As duas eram amigas inseparáveis e participavam juntas, de todos os acontecimentos , sempre envolvidas com a a igreja, que acredito tinha imensa influência nos jovens da sua época. Tio Virgilio, era farmaceutico e morou em vários lugares da zona da Mata de Pernambuco, como Gameleira, Palmares, Ribeirão,Usina Cucau, Usina Barreiros e creio que na Usina Trapiche também. Mamãe e tia Luizinha eram participantes das atividades religiosas, sendo as duas " Flhas de Maria" e cantoras do coral. Acho que foi na igreja também que mamãe aprendeu a tocar bandolim. Até na política as duas eram engajadas , sendo filiadas ao Partido Integralista, encabeçado por Plínio Salgado  e apoiado pela Igreja Católica e a princípio por Getulio Vargas. Mamãe contava que elas usavam roupa verde e se cumprimentavam com o termo Anauê. Elas eram muito atuantes pelo que sei, por suas histórias.  Mamãe, " Gracinha" como era conhecida, era muito prendada e exímia bordadeira, o que fazia com que fosse contratada pelas tradicionais familias para bordar os enxovais das filhas casadoiras. Por conta disso, era convidada a passar, às vezes meses nos engenhos ou na casa de alguém, bordando as roupas de linho para cama e mesa, deixando nelas, o seu perfeccionismo e arte do bordado à mão. Ela contava muita história dessas suas passagens pelas casas de parentes e amigos. Todos a adoravam , por ser uma moça muito tranquila e recatada, além dos seus dotes e prendas domésticas. Esse aspecto de sua personalidade pode ser usufruido por nós durante toda vida ao seu lado.
                  A familia dela era ligada de certa forma, à de Papai , mas os dois não se conheciam. A irmã de Papai, tia Mana, era casada com Silvano Queiroga, irmão de Tio Zizo, marido da tia de mamãe, tia Auta, que por sua vez, criou suas duas irmãs,  tia Glória e tia Nuninha . As duas famílias tinham forte ligação e como Gracinha estava até passando da idade de casar e ,já era uma " vitalina " aos 24 anos, começaram a se preocupar em arrumar um casamento prá ela. É aí que entra o Seu Abel Peres, solteirão de 34 anos, já passado da idade e sozinho.
                Papai, depois da morte de sua mãe e não gostando nem um pouco da sua madrasta, saíu de casa e foi morar com tio Marcelo, seu irmão mais velho, com quem aprendeu tudo sôbre usina de açúcar. Tio Marcelo era quimico formado e viveu muito tempo em Sto Amaro, na Bahia, onde trabalhou em usina. Papai passou longo tempo com ele e foi aí que namorou uma moça, chamada Mariana, irmã da mãe de Caetano Veloso. Quase casou com ela, mas o destino o tinha reservado para aquela que passaria a vida toda ao seu lado. Tio Marcelo voltou prá Pernambuco e foi ser quimico na Usina Mussurepe, em Paudalho. Não sei se papai chegou a trabalhar com ele ou se arrumou logo emprego como " chefe de fabricação"  na Usina Trapiche. O que sei é que a familia armou um encontro entre os dois e mamãe à primeira vista, o detestou  ao ponto de se esconder quando ele aparecia na sua casa para uma visita. Ela falava que achou papai, o homem mais feio do mundo e não queria saber dele. Deve ter dado trabalho a Seu Abel para conquistá-la . Eu sei que a coisa não foi fácil. Aos poucos , ele foi se chegando e jogando seu charme prá cima da "solteirona", que acabou caindo nas suas graças. Começaram a namorar e claro, com o aval da familia ,que fazia o maior gosto. Noivaram durante algum tempo e se casaram no dia 23 de janeiro de 1937, na igreja do convento de S. Francisco, em Sirinhaém. Na foto do casamento, ela muito bonita com seu vestido branco , véu e grinalda, parecia uma deusa grega e ele, todo apertado no seu terno branco, com a maoir cara de felicidade. A  grinalda de flor de laranjeira ,ficou guardada durante anos, no santuário. Lembro muito do seu sapato branco de casamento, que eu destrui, usando-o como qualquer menina que adora um salto alto. Como eu achava lindo aquele sapato,  já amarelado pelo tempo !
                 Estava feito o princípio de tudo. Casaram e foram morar na Usina Trapiche, na rua da Báia, depois da casa grande. Mamãe, muito submissa e papai muito ciumento. Também pudera, conseguiu uma flor de mulher e só tinha mesmo que ser ciumento. Ela também tinha seus ciumes e não gostava nada das histórias da Bahia. Gemi, filha de tio Marcelo, lhe contou sobre a Mariana, falando inclusive que ela e papai tinham até combinado o nome da filha que tivessem juntos, que seria Mabel ( Ma de Mariana e Bel de Abel ). Mamãe ficou quieta e nunca comentou nada com ele, que não sabia da fofoca de Gemi, até que quando eu nasci (  a primeira menina ),Papai sugeriu que o meu nome fosse Mabel, o que deixou Mamãe muito contrariada , não aceitando a sugestão,apesar do argumento dele de que seria Ma de Maria e Bel de Abel. Não teve jeito, virei Graça Maria, em homenagem a ela. Quanto a ele manteve na cabeça esse nome e quando a Leila nasceu me criticou na escolha do nome que a seu ver poderia ser Mabel, em homenagem a ele e Mamãe. Como eu não tinha pensado no assunto e já tinha registrado a minha filha, Luiza usou o nome na filha dela , para lhe fazer uma homenagem.
                Lembro que Valério era seminarista, aliás um" minipadre", quando certa vez, mamãe estava sozinha com ele numa loja em Recife ( Viana Leal ), e deles se aproximou uma mulher desconhecida ,que perguntou se o menino era filho de Abel. Mamãe botou na cabeça que era a ex-namorada de papai, aquela da Bahia e chorou muito por causa disso.
                Mamãe ficou grávida de Valério, quase um ano depois do casamento e quando ainda o esperava , sua tia perguntou se não queria uma menina de sete anos, orfã de um empregado do engenho dela , cuja mãe não tinha condição de criar e foi aí que Lia chegou na nossa vida. Lia teve um papel muito importante na nossa história. Ela ajudou mamãe na nossa criação e esteve conosco em todos os momentos da nossa infância e adolescência.
                Formada a familia com a vinda de Valério, mamãe que era boa parideira trouxe  mais cinco ao mundo : Carlos, Murilo, eu , Eduardo e Luiza, uma turma da pesada que  deu o maior trabalho aos dois ,que amaram profundamente suas crias. Fomos muito felizes ao lado dos nossos pais e eu particularmente me considero privilegiada de ter feito parte dessa família maravilhosa. Infelizmente Mamãe foi embora muito cêdo, não tendo tempo de ver tanta coisa boa que aconteceu nas nossas vidas. Papai, coitado, não conseguiu ficar sozinho por muito tempo e logo foi ao seu encontro. A relação dos dois era muito bonita. Eu não lembro de ter visto brigas e desavenças entre eles. Lembro dele, sempre muito atencioso e cuidadoso com ela, dos dois muito unidos, não se largando nunca e quando acontecia uma breve separação, ela se debulhava em lágrimas.Era comum vê-los se abraçando pelos cantos da casa, mesmo quando mais velhos Mamãe foi muito submissa a ponto de nunca sair sozinha sem ele. Papai , sempre pôs tudo dentro de casa e ela não sabia sequer quanto custava um pacote de café. Até sua roupa íntima, era ele que comprava e acho que a sua submissão foi a forma que encontrou de viver em harmonia e com certeza, foi feliz assim. Tivemos uma criação totalmente patriarcal e acho que resquicios dessa formação ainda são sentidos em nós. Hoje, vejo  tudo com muita graça e adoro lembrar dessas peculiaridades.
                 A saudade é muito grande e me leva a sonhar com tudo que vivemos. A vontade de que outros saibam de como foi a nossa vida, talvez prá que nos entendam melhor, me faz registrar essas memórias que até podem ser contestadas ou acrescentadas pelos meus irmãos que como eu ,tiveram um pouco do paraiso nas mãos !!!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Minha filha Flávia ( no seu aniversário )

            Falar da flávia é muito difícil, porque nem mesmo uma mãe consegue penetrar no âmago de um filho e dizer que o conhece plenamente. A mãe ama incondicionalmente e não questiona o que vai no coração do seu fruto. A mãe observa, acompanha, aplaude, recrimina,orienta e aceita ser orientada por um filho, quando as circunstâncias exigem . É incrível, a relação mãe e filho ! A gente pensa que tem sempre ensinamentos para lhe dar e no decorrer da vida, percebe que tem muito que aprender com ele.
            Com a Flávia, sempre foi assim. Quando ela era muito pequena, um bebê ainda, aprendi com ela como cuidar de uma criança. Eu achava que ela tinha que ser como eu queria e ela me mostrou desde cedo que tinha uma personalidade a ser respeitada e que eu tinha que aceitar isso. Aos quatro anos, ela era muito autossuficiente e queria fazer tudo sozinha. Duvidei da sua capacidade e cheguei a consultar uma psiquiatra infantil que depois de conversar com ela e lhe aplicar alguns testes, me falou sem rodeios que quem precisava de um psiquiatra era eu. Depois dessa ducha gelada, permiti que ela fosse ela mesma e ela foi.
             Flávia foi uma criança com opinião própria e diferente das outras. Seus interesses despertavam o interesse dos adultos. Ela não sabia ler ainda e já manuseava livros que não tinham nada a ver com as preferências de uma criança. A sua atração era pelos livros de orações de mamãe, que ela ficava horas e horas, com o livro de cabeça prá baixo, compenetradissima, como se estivesse lendo. Outra hora pegava um caderno e com um lápis o enchia de bolinhas, uma atrás da outra ,como se fosse uma escrita. E não saía da linha. Depois que foi para a escola, outra coisa interessante : do jeito que saía de casa, toda arrumadinha , voltava com tudo no lugar como se não tivesse feito nada. Sempre foi muito estudiosa e compenetrada , nunca nos dando o menor trabalho .
              Foi uma adolescente voltada para atividades com outros jovens, cantando no Coral da escola e tendo oportunidade de viajar com o grupo, sem que isso me trouxesse inquietação. Cheia de amigos, sempre me pareceu muito tranquila, a não ser pelos seus interesses políticos. Petista roxa, plantou a carreira política do Lula com sua campanha em prol do mesmo.Naquela época, nunca me passou pela cabeça que aqueles jovens que se reuniam na minha casa, batalhando pelo PT, pudessem  no futuro ,eleger o Lula Presidente.
              Nos 15 anos da Flávia, dei a ela de presente, uma linda Bíblia ilustrada, porque era a sua leitura preferida, além dos clássicos da literatura. Nunca conheci nenhuma menina da sua idade que trocasse uma praia por um livro de Shakespeare ou outro desse nível. Mas a minha filha era assim. Fazer o que ? Se fosse filha de Luíza, estaria explicada essa inclinação intelectual . Sempre voltada para o saber, fez seu primeiro vestibular para Fonoaudiologia, passando de cara e logo descobrindo que não era o que queria. Um tempo depois optou por Enfermagem, profissão que lhe caiu como uma luva. Nunca se afastou da vida academica, sempre se preparando mais e mais. Fez o curso em Recife e veio embora prá S.Paulo, onde se afirmou profissionalmente, sendo querida por todos da área e valorizada no meio. Muito correta e amante da profissão, nunca usou a sua capacidade profissional para se vender mais caro. Sempre trabalhou muito e sempre muito sacrificada financeiramente, ama o que faz e tem o pensamento voltado para o cumprimento dos seus deveres.
              A vida dela também deu suas voltas, mas hoje a vejo tranquila cuidando dos seus filhos e me dando a alegria de estar perto de mim. Se existe uma pessoa que merece ser feliz é a Flávia e ela vai alcançar o que ela quer com a vontade de Deus e Ele com certeza vai comtemplá-la com isso , pela sua retidão, esforço e competência.
              Nossa relação é engraçada. Ela, por conta dos meus problemas de saúde, me poda e controla minha vida, me deixando louca. Mas é tudo cuidado. Flávia é uma filha muito amorosa e me cobre de mimos. O meu respeito e admiração por ela são imensos.
              Hoje, minha menina está fazendo 47 anos e é difícil aceitar que o tempo foi tão célere. Talvez ela não saiba a extenção do meu amor porque a nossa vida não foi fácil, eu não consegui lhe dar segurança e tranquilidade quando ainda era quase uma menina e isso me faz sofrer muito. Talvez tenha feito ela sofrer também e não tem como resgatar coisas do passado. Espero que na sua cabeça, o saldo não seja tão negativo e que ela não me condene por isso.
              É tempo de colheita na sua vida e eu espero que ela possa colher os frutos do que plantou, vendo seus filhos se realizarem ,sua vida se equilibrar do  jeito que você sonha  e batalha prá isso.                                                                                                                                                                        Parabéns minha filha  e não abra  mão de ser PLENAMENTE  FELIZ !!!                                                 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Casamento de Murilo e Vilma

           Não sei exatamente quanto tempo faz, acho que foi em 1969 ou 1970, que Murillo e Vilma subiram ao altar da Igreja N.Sra. do Rosário dos Pretos em Recife, para celebrar a sua união. Os dois já estavam noivos há um bom tempo e o casamento era acontecimento esperado na nossa história familiar.
           Talvez, Vilma tenha sido a noiva que mais se preparou para esse dia. Tudo foi cuidadosamente preparado por ela nos seus mínimos detalhes. Tudo estava perfeito, o casamento foi lindo e como era costume na época, a comemoração foi na própria igreja e constava de um bolo e champanhe que foram servidos aos convidados. Não se fazia festa em outro lugar. E assim foi , com muito brilho e encanto.
            A noiva vestia um vestido de renda francesa maravilhoso, de uma beleza simples e elegante, confeccionado com muito esmero. Vilma estava linda e feliz com tudo tão perfeito e a seu gosto. Murillo, sempre foi um homem bonito e no dia do casório, parecia um lord. Havia felicidade no ar e nessa ocasião , ainda tinhamos a venturosa  companhia de nossos pais. Estávamos todos reunidos numa festa linda e muito significativa.
           Lembro de todos os preparativos como se fosse hoje. Mamãe e papai estavam na nossa casa , em Olinda e lá se prepararam para a festa. Marluce, minha vizinha e amiga, (de saudosa memória) fez o vestido de mamãe que ficou maravilhosa de longo verde, cabelos arrumados, uma dama como sempre foi. Ela estava radiante porque fazia muito gosto com o casamento e era louca por Vilma, que tinha como filha. Não precisa falar que os dois, papai e mamãe estavam muito orgulhosos com o casamento de mais um filho. Dona Graça, pela primeira vez, levaria um filho até o altar, o que a deixava excitadissima. Enfim seria um dos destaques do acontecimento. E lá foi ela, tremendo os lábios, se controlando prá não chorar, porque era a emoção em pessoa. Conseguiu fazer seu papel direitinho !  Outra figurinha de destaque era a Flávia, que  foi daminha, ao lado do primo da noiva. Ela trajava uma saia longa, rosa e blusa branca de cambraia bordada, com mangas bufantes, de acordo com a moda da época e gosto de Vilma.  Na hora de ir para a igreja, ela estava tão nervosa que começou a se queixar de uma dor muito forte na barriga, motivo de preocupação para nós que não sabiamos o que fazer. Deu trabalho prá ela entrar na igreja com o seu par, que por sinal era seu desconhecido e muito maior que ela. Acho que esse era também o motivo da sua dor de barriga, em se tratando de Flávia. Enfim, não houve vexame por parte dela, só ameaça...
                   Na época do casamento, Luíza morava em Recife e Sergio me deu a idéia de usar uma roupa pintada por mim. Eu, como era muito metida, comprei um pano preto e fiz uma saia longa, que pintei com motivos florais, predominando um verde neon. Tudo sob orientação do meu cunhado entendido de moda. A blusa era verde, fina e de mangas compridas. Fui no cabeleireiro e fiz um penteado com uma peruca que eu tinha, que me deixou com cara de japonesa. O cabelo foi preso num coque e dele saíam trancinhas e mais trancinhas. Eu nem acredito que fiz tudo isso. Em suma, achei que eu estava linda ! O que a moda não faz com a gente ? Hoje, dou risada de mim mesma !
                    Quanto tempo já passou, quantas voltas nas nossas vidas, mas o certo é  que os noivos daquele dia, continuam juntos e não se desgrudam nunca. Um não consegue viver sem o outro e eu que convivi muito com os dois, sou testemunha desse amor que transcende. Viver com os dois, foi prá mim um grande privilégio, quando vim para o Rio e fiquei na casa deles. Fui acolhida por eles com meus filhos, no momento mais difícil da minha vida e só tenho que agradecer.
                    Os filhos que Deus lhes deu, são meus filhos também. Tenho o maior carinho por todos eles e sempre recebi muito de cada um. Vic, Victor, Murilinho e Mariana, são verdadeiras pérolas na vida de qualquer um. A distância de hoje não consegue afastá-los de mim e fico muito feliz quando os encontro.
                    É isso aí. Meu irmão, companheiro de tantas peraltices da infância , é hoje esse homem que admiro profundamente, meio carioca talvez, grande amante dos botecos do Rio, tomador de cerveja e rodeado de amigos, um grande gozador e muito parecido comigo, a cara de um ,focinho do outro, meu grande amigo de todas as horas. Atrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher e isso é a mais pura verdade, quando se trata do casal em evidência. Não tenho palavras prá descrever a grande mulher que é Vilma, essa criatura de fibra, forte, correta e amiga, a maior amiga que alguém pode ter na vida. Minha irmã de fé, sempre presente na minha vida, mãezona daquelas que nem leoa!
                    No aniversário de casamento dos dois, peço a Deus que lhes dê muita felicidade, muito amor, muita paz no coração pela certeza do dever cumprido, muita alegria com os filhos e netos e muita vida pela frente. !!!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Querer por querer.

       
          Eu quero luz no meu caminho
          Quero amor no meu coração,
          Quero sabedoria, mais sabedoria,
          Para poder conviver em paz
          Mesmo com quem não me entende.

          Quero um mundo melhor,
          Quero harmonia entre os povos
          Quero o amor do meu próximo,
          Quero brilho nos olhos de todos,
          Quero respeito e justiça, quero vida.
         
          Quero ser eu mesma todos os dias,
          Sendo fiel à minha consciência
          Sem ter que me agredir,
          Para agradar quem quer que seja,
          Quero viver sem ter que pedir.

          Quero dar mais a quem precisa
          Quero esquecer o mal que passou,
          E lembrar tudo que me fez bem,
          Quero apenas ser muito feliz
          E que todos sejam felizes também.

          Janeiro/2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012 sem abandono de recém-nascidos !

              Chegou 2012 com muita festa e muita alegria !  O maior espetáculo veio do céu, com a explosão colorida e luminosa dos fogos de artifício. Realmente, é deslumbrante o show pirotécnico que a cada ano é apresentado com mais qualidade. As pessoas enfrentam chuva, transito difícil, espaço cada vez mais apertado, para a grande aventura da virada de ano nas grandes cidades. Tudo é festa e deslumbramento nesses eventos monumentais ! Festeja-se o novo ano com a esperança de que seja melhor, mais promissor e com uma melhor valorização da vida . Tudo é festa e contagia mesmo quem não sai de sua casa. A telinha mostra tudo e faz com que participemos de toda essa euforia gostosa. Os esforços para que o ano que nasce, seja perfeito, permitem as mais variadas "simpatias" e todos embarcam nelas com a certeza de que vão funcionar.Primeiro, todos se cobrem de branco, na esperança de ter paz, depois vem uma corzinha amarela ,prá ter dinheiro, vermelha de paixão e por aí vai. As lentilhas e a uvas devem ser comidas na passagem do ano, as sete ondas também devem ser puladas, folhas de louro na carteira, prá não faltar dinheiro e outras tantas coisas que são feitas prá que a vida seja melhor, que o mundo tenha mais paz e que haja mais harmonia no nosso planeta.
                 O ser humano é otimista por excelência, e aposta todas as fichas no ano que está chegando. Isso é muito bom por um lado, porque nos faz sonhar com dias melhores e por outro lado, nos puxa para baixo e nos faz sentir que nada muda com a chegada de mais um ano, que a vida continua , numa sequência de acontecimentos bons e maus. A mudança está em cada um de nós que temos que nos esforçar para não cometer os mesmos  erros, para tentar aceitar melhor as coisas, as pessoas com suas diferenças, as nossas dificuldades.O novo ano nos inspira  a necessidade de participação maior das atividades mais importantes da familia, da sociedade, do mundo em que vivemos. Mudar o mundo é obrigação de cada um de nós e o processo é realmente muito lento e sofrido.
                 A realidade nos atinge como um raio, logo no primeiro dia do ano, no dia da Confraternização Universal, quando todos os povos se unem num só pensamento em busca de felicidade, de paz, de amor.
Há pessoas que infelizmente não compartilham desse pensamento e tentam resolver seus problemas de forma incomprensível a todos nós. As notícias não nos deixam sonhar muito com uma humanidade melhor,quando ficamos sabendo de fatos lamentáveis de abandono de recém-nascidos ,por exemplo. Todos os dias essa coisa horrível se repete, como se fosse a  mais natural do mundo. Não podemos sequer comparar aos animais irracionais porque nem eles cometem maldade igual, mesmo porque a maternidade é antes de tudo um fato natural e instintivo. Para nós humanos, é uma benção de Deus, a dádiva maior de poder dar continuidade à nossa vida, de poder criar e preparar um pedacinho de nós, com responsabilidade e amor. Muitos sonham com a possibilidade de colocar um filho no mundo e recorrem a todos os meios da ciência que , hoje faz verdadeiros milagres, nos deixando encantados com a sua evolução. É normal, é natural, é humano querer ser mãe, querer ser pai, querer ter um filho, querer formar uma família. É nossa meta na vida e se fugimos disso, somos exceção à regra.
               Infelizmente, não podemos evitar que casos de abandono de bebês ,ocorram com tanta frequência e nos chocamos com as notícias, de forma especial, quando no primeiro dia do ano, uma mulher tem um filho, sem que saibamos em quais circunstâncias e o abandona na rua, ainda com plascenta e cordão umbilical, exposto a toda sorte de perigos. Além de abandoná-lo, quis a sua morte. Por que ? O que pode levar uma mãe a tamanha monstruosidade? Por que essa criatura não sentiu o prazer da maternidade ? Por que deu mais valor à sua vida do que à da sua cria ? São perguntas sem respostas que nos fazemos diante de tal atitude. Esperamos punição para ela, ouvimos explicações, as mais diversas, mas continuamos sem compreender. Há de se entender uma gravidez indesejável, o que acontece a todo momento mas não podemos admitir que uma mãe, por mais problemática que seja a sua situação, não tenha um mínimo de apego ao seu fruto, querendo que morra, jogando-o fora como se fosse um objeto qualquer. Será que não lhe passa pela cabeça que alguém pode desejá-lo ? Será que não pensa que pode permitir a vida desse ser indefeso, entregando-o com segurança a alguém que o adote  e ame ? Não há explicação e tem acontecido  todos os dias numa verdadeira banalização da vida.
                A maternidade é algo maravilhoso na vida de uma mulher mas é também uma escolha sua que hoje pode programá-la ou evitá-la. Os meios para evitar uma gravidez, estão ao alcance de todas, sejam elas as mais pobres das criaturas. O Estado oferece o necessário, tentando assim evitar tanto abandono de crianças. A mulher atual, é dona do seu corpo e do seu destino. A conquista desse "status" custou muita luta àquelas que sempre ansiaram pela sua autonomia. Hoje, a mulher pode escolher a sua condição, profissão, o seu direito à vida e à reprodução, sem necessariamente depender do homem para isso. É um avanço incrível e a mulher conseguiu se fazer respeitar como sempre sonhou. Não sou feminista, nunca fui e não acho legal o movimento.Apenas, acho que a mulher é muito capaz de dirigir o seu barco e cuidar sozinha da sua prole, se for o caso. Não tem porque no tempo de hoje, ela se despojar do seu instinto materno e sacrificar seus filhos como se fossem um nada.  Ser mãe é algo indescritível, tanto que o amor materno sempre foi exaltado em prosa e verso desde que o mundo existe. A sensação de ver sair de dentro de si um ser vivo, totalmente indefeso e dependente dos seus cuidados, é única, é maravilhosa, tem gosto de vitória, de grandeza. Só quem já teve a experiência , pode avaliar quanto é importante e como transforma a mulher , dando-lhe mais amor, mais sabedoria, mais vontade de viver ! Mesmo, aquelas que não conseguem parir seus filhos e os adotam, sabem o que significa ser mãe. O amor incondicional é nossa marca, é nossa verdade.
Não podemos portanto, entender o comportamento tresloucado  de mães que sacrificam seus filhos, negando-lhes o direito à vida, no momento em que os põem no mundo.
               Alguma coisa tem que ser feita para evitar essa calamidade. Uma campanha, talvez, conscientizando as mulheres prá que não tenham medo de entregar seus filhos indesejados para que outras os criem. Uma campanha pela vida, para que as nossas crianças não sejam jogadas no LIXO !!!