quinta-feira, 4 de outubro de 2012

MEU  IRMÃO     FÊNIX “                  

           Dos seis filhos de seu Abel e dona Graça,  o mais velho , Valério, se destacou pelo seu grande poder de superação  e  pela sua tenacidade  em viver a vida com a força da esperança e  da fé em Deus e  em si mesmo.
           Nascido em 4 de outubro de 1938,  essa pessoa  rara está completando  74 anos de uma existência  rica de experiência e sabedoria.  Sua trajetória é de muitas  esquinas, algumas muito boas , outras difíceis, que ele , com seu coração remendado superou muito bem , sendo hoje um homem abençoado  pela família maravilhosa que tem e pela felicidade de poder desfrutar do amor de tantos.
           Voltando no tempo, vamos a 1948 mais ou menos, quando resolveu  fazer feliz uma família católica, que na época era honrada com a vocação religiosa de um de seus filhos. Hoje eu me pergunto se alguém com 10 anos pode ser levado a sério quando diz que quer ser padre.  Bom, parece que ele falou e o pegaram na palavra  !   Maravilha!    E  Valério foi para o Seminário de Olinda, onde ficou 4 anos, deixando um vazio enorme na nossa vida na Usina Trapiche.
          Ele vinha nas férias, vestido de batina preta e chapéu.  Imaginem um baixinho vestido de padre e cheio de compenetração!     Na hora do futebol, ele puxava a batina pelos bolsos para jogar e na praia usava um enorme calção para o banho de mar.  Nós ficávamos fascinados com o  PADRECO.  Mamãe e papai  não cabiam em si de tanto orgulho.
          Nas últimas férias que passou na praia, a sua vocação não resistiu aos encantos  das LUZES DA RIBALTA  que Socorro cantava cheia de sensualidade e aconteceu o desastre :  Valério não voltaria para o Seminário e a notícia chegou como uma bomba atômica , deixando toda a família atordoada.  Nosso  futuro  PAPA  encerrava sua carreira religiosa. Acho que os hormônios falaram mais alto e o  celibato não era sua praia.
          Graças a Deus  aconteceu .  Nós nos livramos de um monte de cunhadas    “ MULAS SEM CABEÇA”  e de um monte de sobrinhos” FILHOS DO PADRE”.   Com toda sua macheza, com certeza esse padreco iria dar material para um seguidor  de  Eça de Queiroz ou para  Nelson Rodrigues.  Ainda bem que desistiu e resolveu ser empresário e fazendeiro,  coisa que conseguiu com muita maestria.   Bons tempos  aconteceram  e ele provou o gostinho de ser rico  e nós  ainda pegamos uma carona na sua riqueza.  Só que ele escolheu viver nessa vida, muitas experiências de uma vez e dobrou todas as esquinas.  Até pizzaiolo  o  rapaz foi .  Hoje é um homem plenamente  feliz , cercado de amor por todos os lados e com uma grande vontade de viver.

          Val, você pra mim, é um exemplo de vida e como já lhe falei antes, desde rapazinho, é meu ídolo. Lembro como se fosse hoje , quando você estava no Rio e ia pra Usina nas férias. Eu ficava encantada com suas roupas cheirosas e lembro especialmente de uma camisa de malha vermelha toda furadinha, que eu achava maravilhosa. Você parecia um galã do cinema.
          Hoje, ao fazer 74 anos, quero que receba meu grande abraço, meu beijo carinhoso e quero que saiba que você é um homem vitorioso, porque sua bagagem de vida é muito rica e valiosa e é isso que importa.  Você é uma das poucas pessoas que vi acordar dançando e cantando, no melhor humor do mundo e desafiando a vida e os obstáculos para ser feliz.
           Peço todo dia a Deus para lhe dar muita felicidade, muita saúde , muita disposição ,pois sei que amor você tem de sobra. Parabéns pelo seu aniversário e pela pessoa  linda  que  você é e que eu admiro muito !!!

FELIZ   ANIVERSÁRIO  !   UM  BRINDE  À  VIDA  E   AO  ENCANTO  DE  SER  FELIZ  !

Graça, 04 de outubro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

         DONA  GRAÇA , CHEIA DE GRAÇA

        Quase  quarenta anos sem mamãe !  E parece que foi ontem que a vi pela última vez. Era um segundo Domingo de agosto, dia dos pais , quando fomos todos para a usina homenagear seu Abel que vaidoso , nos recebeu com alegria. Havia a recomendação de não levar qualquer problema ou dar trabalho à dona Graça, que estava ainda em observação, por conta de um quase enfarto, há seis meses atrás .
          Ela estava feliz por ter voltado pra sua casa e como uma formiguinha que não parava de trabalhar,  nos mostrou  sua produção de peças de retalhos . Eram almofadas e paninhos artesanais , com o capricho de quem fazia tudo com amor.  Porque não podia mais usar a sua velha máquina de costura, passou  a fazer tudo à mão.
          Passamos um dia maravilhoso ao lado dos nossos pais , sem imaginar que aquele seria o último dia com os dois. No dia 29 do mesmo mês , ela partiria  abruptamente, deixando-nos órfãos como se crianças fossemos.
          E a nossa vida de sonho no paraíso  Usina Trapiche, se encerrava ali.
          A dor da perda foi tão grande que nos vimos sem  bússola , qual navegantes perdidos no mar de sofrimento.  Papai ficou completamente desnorteado  e , sem dúvida , começou a morrer também. Fomos  surpreendidos  pela primeira vez pela morte tão perto de nós e hoje sei que não estávamos preparados para isso.  Ninguém nunca está , na verdade, mas nós nunca tínhamos  sentido na pele a dor de uma perda tão irreparável.
         Eu, especialmente, fiquei muito frustrada por não ter tido oportunidade de lhe dizer que estava grávida do meu quarto filho :  a Leila.   Fiquei sabendo com certeza da gravidez ,alguns dias antes e como naquela época , não tínhamos a facilidade de comunicação  de hoje,  ela não pôde curtir a notícia de mais um neto a caminho. Como lamentei  !
         Mamãe foi uma criatura que adorava ser avó,  o quê  a enchia de alegria sempre !  Ela e papai tinham verdadeira adoração pelos netos e se encantavam com a presença deles na sua casa. Não precisa dizer que os dois enchiam as crianças de mimos e eu , que tinha os três primeiros,  ficava danada quando voltavam pra casa cheios de manha.  Até hoje, eles  lembram de coisas  como os bolinhos que ela fazia com a comida para lhes despertar  o apetite. Coisas da dona  Graça , que não perdia a chance de agradar.
         Mamãe foi a melhor pessoa que conheci na vida. Ela reunia todas as virtudes que uma pessoa pode ter.  A sua bondade foi determinante na nossa formação  familiar. Apesar da  sua aparência  frágil, foi com sua fortaleza  que soube  conduzir  tão bem as nossas vidas.
         Fico  lembrando  dela, dos seus bordados , da sua mão maravilhosa no comando das panelas, sempre nos oferecendo comidas deliciosas que não conseguimos esquecer. Penso com meus botões que na época,  ela podia ter apenas um limão e certamente fazia dele uma saborosa limonada. Imagino se tivesse os recursos  que temos hoje !
         Lembro  como gostava de receber todo mundo, com sua mesa farta e como se deliciava em ver determinadas pessoas comerem com gosto a sua comida preparada com esmero. Boba era uma , que ela adorava ver comer.
           Bons tempos , aqueles em que nos reuníamos   na usina !  Era uma verdadeira farra !
           Sinto muita saudade de tudo, mas não sofro com as lembranças. Muito pelo contrário, me sinto privilegiada de ter feito parte de uma história muito  bonita  que foi de todos nós. Gostaria muito que meus filhos guardassem tão boas lembranças da infância deles , mas infelizmente não consegui  fazer com que tivessem um mundo tão mágico como o meu . Nem sempre  uma história se repete, mas certamente marca para sempre a nossa vida eu  sou muito grata a Deus por me ter dado a maior dádiva que um filho pode ter :  Pais amorosos e dedicados que com sua generosidade encheram a nossa vida de bênçãos  incomparáveis.
           Não me canso de render-lhes homenagens. Que Deus os encha de muita luz e felicidade  eterna !!!

Graça, 29/08/2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

INDEPENDENCIA OU MORTE!

Chegou setembro, o mês mais bonito do ano, cheio de promessas e de lembranças, o mês que nos traz o sol, a primavera, a vida.
Hoje, o Brasil comemora a sua libertação de Portugal. O país está em festa e a data é de muito saudosismo para pessoas que, como eu, aprenderam o significado da palavra INDEPENDENCIA. Aprendemos que “Os grilhões que nos forjavam” foram quebrados e que a partir dai, estaríamos livres da exploração e da extorsão pérfida e determinante que nos oprimiam, enquanto Colônia.
Quantas vezes fui apreciar o desfile de patriotismo que empolgava os brasileiros crentes, como eu de uma verdadeira INDEPENDECIA! Quantas vezes fui prestigiar o dia mais importante da vida do cidadão brasileiro! 
Quantas vezes participei do desfile, com o entusiasmo dos estudantes da minha infância, marchando garbosos e sabendo cantar os hinos da Pátria Amada!
Já adulta, fiz questão de levar meus filhos, pequenos na época, de ônibus, de Olinda até a Av. Conde da Boa Vista, em Recife, para que participassem da festa cívica do 7 de setembro.
Tudo isso me parece muito distante e irremediavelmente me leva de volta ao passado, na nossa querida Usina Trapiche. Fecho os olhos e posso ver o pátio do Grupo Escolar forrado de rosa, das flores das grandes acácias, que explodiam sob nossos pés descalços. Posso ter a sensação gostosa que isso provocava. Havia também um Flamboyant que enchia de vermelho os nossos olhos maravilhados.
O Grupo Escolar era vizinho à nossa casa, de onde se podia ouvir as vozes empolgadas das crianças cantando os hinos da Pátria. Mamãe se divertia com os erros que elas cometiam como: “Recebe o OFETO que se encerra”...” ou” Brasil, um sonho intenso um raio SÚGIDO...” e por aí vai o besteirol da molecada, o que não é de se estranhar, visto que as palavras dos hinos são incomuns até para muitos adultos que não sabem o que significam. Mas a escola dava lições de civismo e amor à Pátria. E no dia 7 de setembro, perfiladas, as crianças marchavam solenes pela rua, aplaudidas pelos moradores que não perdiam uma parada.
A emoção de desfilar nessa data era muita e assim crescemos, com o entendimento de respeito às nossas manifestações cívicas. Sabíamos que D. Pedro I, de cima de um cavalo branco, com espada em punho, às margens do rio Ipiranga, deu o seu grito de “INDEPENDENCIA OU MORTE”, libertando o nosso Brasil da Coroa Portuguesa. Hoje , mais do que nunca, estou certa da versão do nosso avô Gaspar Peres, em um de seus livros (segundo papai falava) que o grito foi de dor de barriga. De dor de barriga, eu não sei, mas com certeza um grito de desespero em perceber que estava abrindo mão do nosso ouro, do domínio sobre nossas riquezas. Talvez até ele previsse que a proclamada independência fosse um prenuncio da nossa REPÚBLICA desfigurada, de hoje, da falta de patriotismo dos nossos governantes que fazem dos seus mandatos um pé de meia.
Não sei se hoje temos o que comemorar, sabendo que nos livramos do domínio de Portugal e caímos nas “MÃOS LEVES” dos brasileiros espertos, que nos oprimem com sua ganancia de poder e imoral formação de quadrilhas, que comandam o nosso País.
Sinto saudade sim, do tempo em que tínhamos esperança, do tempo em que nos ensinavam a respeitar as leis e as instituições brasileiras. Sinto saudade do tempo em que havia um lampejo de ética na política, do tempo em que candidatos se apresentavam à altura do cargo que almejavam. Hoje, eu não entendo mais nada. 
O Poder Judiciário é formado por pessoas capacitadas para julgar e aplicar as Leis, enquanto que os outros dois Poderes, o Legislativo e o Executivo, qualquer Zé sem um mínimo de instrução pode exercer. Como podemos reclamar das Leis e das decisões se eles nem sabem o que fazem? O cidadão comum, aquele que estuda, que investe tudo em melhores conhecimentos, que se doa ao bem comum, não consegue um salário digno, enquanto essa cambada sem preparo e sem escrúpulos mama nas tetas do tesouro público.
É, e mais um setembro nos promete a melhor estação do ano, mesmo assim. No meu Pernambuco lindo e hospitaleiro, o dia de hoje representa a abertura da temporada de praia. Lá , as chuvas se recolhem e o sol aparece com força, oferecendo dias luminosos a todos. É hora de festejar, de comemorar as maravilhas da natureza que, graças a Deus , estão nas mãos d’ Ele e não nas dos abomináveis governantes brasileiros!


Graça, 07 de setembro de 2012.

domingo, 2 de setembro de 2012

MEU BRASIL À DERIVA

MEU BRASIL À DERIVA




                  O Apocalipse, na Bíblia, fala de forma figurada e difícil de entender do fim do mundo. Creio que João foi muito moderado nas suas profecias. Também pudera, na época não era fácil explicar o que seria uma guerra atômica como previu Nostradamus. 

                   Hoje, nós sabemos o que poderá acontecer com o mundo se um alienado desses, que tem o poder de fazer um estrago, resolve dar fim à humanidade.  Fico arrepiada só de pensar em tamanha catástrofe.  Só que, infelizmente, a humanidade caminha para um desfecho atroz e exterminador.

                   Não precisamos consultar a Bíblia ou conhecer as profecias de Nostradamus, para saber que o homem que fala tanto em PAZ, em algum momento, quis realmente isso.  É uma grande utopia, pensar que um dia teremos nossas vidas e nossos direitos preservados diante de tanta ignomínia que avassala a humanidade.

                   Nós brasileiros, que vivemos neste país de tanta terra, tantas riquezas, tantas maravilhas naturais, reclamamos da bandalheira que se instalou no poder e que não é de hoje, inferindo a nós todos uma falta de dignidade que a cada dia aumenta, não atingindo só aqueles mais desprovidos de oportunidades, mas a todos que se atrevem a produzir algo. 

É PROIBIDO SER HONESTO E TRABALHADOR NESTE PAÍS.

Esta é a questão que perturba e mutila nossos sonhos, nossa pretensão de querer contribuir para o desenvolvimento da nossa Nação.  Estamos cada vez mais pobres, mais endividados e sem perspectiva.  O setor privado está pedindo socorro, as pessoas estão ficando desesperadas e cada dia mais indignadas com a falta de entendimento dos governantes, que cada dia mais se mostram voltados para seus próprios interesses.

                  Não sou uma expert em Política e Economia, mas não sou burra como qualquer um de nós não é. Sou uma brasileira entre tantos, sem voz e sem esperança.

                  Estou no centro de maior poder econômico e me assusto com o que vejo todos os dias: muita gente sem crédito, com o nome sujo, empresas fechando as portas e o desespero tomando conta de muitos. As pessoas estão com nome sujo, não por safadeza, mas porque não conseguem pagar suas contas e sofrem.  As empresas não se sustentam por conta de uma economia desorganizada, um mercado de competição desleal, uma indústria de impostos desumana, consumidora de qualquer ganho auferido.

                   Aí a gente se pergunta: O que está errado?  Tudo está errado.  O salário mínimo, por menor que seja, é impraticável para quem paga.  O trabalhador, a formiguinha do processo não consegue se manter com uma quantia tão irrisória, o empregador não consegue pagar o mísero salário, porque os impostos são assassinos  e o custo operacional é altíssimo. Então resta uma saída: para o empresário, a sonegação e a desgraça quando são flagrados pelos fiscais que por sua vez querem se beneficiar de alguma forma.  Para o trabalhador, que não consegue sobreviver nem com o pouco que ganha, o desemprego. Resta a informalidade, sem segurança alguma.  Resta a tentação do ganho a qualquer custo. 

                  O EXEMPLO vem de cima, com a organização das quadrilhas que aparecem todos os dias, sem punição.  A impunidade tem que prevalecer para proteger os poderosos e os
bandidos são beneficiados. Os crimes são cada vez mais hediondos. Todos sabem que não vão pagar por eles.  E o pior é que o crime mais abominável é contra o povo, que sofre as consequências de um País sem ética e sem moral.

                  Quanta vergonha e desesperança!

                  Aqui, no nosso paraíso, não temos as piores catástrofes e quando acontece alguma, o povo que se vire, como aconteceu na serra fluminense.  Nada foi feito até hoje!  Se não fosse a solidariedade de alguns, a coisa seria pior.

                  Temos nossos problemas e ainda temos que nos considerar felizes se medirmos nossa felicidade com a de outros povos que se matam sem a menor noção da destruição que estão ensaiando para o mundo. Estamos realmente à beira de uma TERCEIRA GUERRA que será rápida e avassaladora.  As previsões de Nostradamus estão se realizando e não será pela água nem pelas mudanças do planeta, mas pela grande inteligência e genialidade do homem.

                  DESESPERO não vai nos salvar dessa catástrofe que certamente já aconteceu antes e da mesma forma. Resta-nos esperar que  os poderosos do mundo se humanizem  e que os poderosos do nosso PAÍS DAS MARAVILHAS  sejam mais patriotas, justos e honestos !

                  Uma Nação é soberana, quando seu povo é feliz e respeitado!





Graça, setembro/2012                  

quinta-feira, 12 de julho de 2012


             MEU “ PSEUDONAMORADO “

             Nada como um dia chuvoso , frio, sem dinheiro no bolso, sem muita perspectiva de pelo menos bater pernas nos Shoppings da vida, aqueles a céu aberto, onde estão todos o camelôs de plantão “ terror da Prefeitura”, meus amigos e sonho de consumo, para ficar em casa e contar histórias.
             A  opção é essa : contar história.
             Hoje , eu vou até os anos 61, 62, quando mocinha, engraçadinha, cheia de sonhos, morava no Derbi, na rua Viscondessa do Livramento, casa da minha tia Mana.  Era um prédio de três andares, chiquérrimo na época e ficava atrás da Faculdade de Odontologia. Na rua da Faculdade , bem na esquina ficava a Casa do Estudante de Pernambuco, um prédio grande , mantido pelo governo, que abrigava os rapazes  universitários que vinham do interior do Estado.
               Para ir ao colégio, eu tinha que necessariamente passar na frente do prédio e fazia isso normalmente sem me preocupar com os assobios e gracinhas que tinha que ouvir. Na verdade, até gostava de ser notada, mas apesar de ser meu caminho diário, não conhecia ninguém de lá.
               No colégio, eu tinha uma amiga que estava de namorico com um estudante de engenharia, que morava na casa do estudante. Como na época , era difícil acesso a telefone e na casa da minha tia tinha um que aliás ainda lembro o número “ 3157” , ela me pediu para ligar para o rapaz de nome  Zadock.  Na casa devia ter muito Zé, Tonho, Chico, mas  Zadock, com certeza , só o próprio.  Tudo bem.  Dispus-me a fazer o favor pedido e ao chegar em casa fiz a ligação. Atendeu uma  voz masculina jovial e educada que me informou que o Zadock não estava e se dispôs a conversar comigo. Batemos um papo descontraído, falamos de estudo e coisa de jovens. Ele me pediu o telefone, eu dei e ficamos de nos falar novamente.
                   No dia seguinte , o moço ligou e conversa vai , conversa vem , ele sabia quem eu era e até me descreveu. Por coincidência , era amigo de uma família, com quem eu me dava muito bem pois era família de uma amiga minha de colégio, com quem eu ia e voltava todo dia.  Por ser amigo desse pessoal conhecido, dei trela ao rapaz e ficamos amigos pelo telefone. Minha amiga ficou toda ouriçada e logo virou cupido na história. Eu sabia tudo dele, ele sabia tudo de mim, mas não nos conhecíamos pessoalmente.
                       Eu costumava ir à missa aos Domingos, na capela da Maternidade do Derbi, que ficava na rua da casa do estudante.
Num Sábado, numa de nossas conversas ,o Misterioso me convidou para irmos ao cinema Boa Vista na sessão de 10;00h. Como eu não o conhecia   e íamos na mesma missa domingueira, combinamos que ele estaria lá e quando eu o olhasse ,  ele iria sorrir pra mim e assim a gente se identificaria. Muito bem. Combinei com minha amiga e a mãe dela ,a ida ao cinema e lá encontraríamos o meu” príncipe”. Na época era assim mesmo:  ir ao cinema, só com duas velas porque eu era uma mocinha de família, coisa e tal.
                       Tudo acertado, saí cedinho de casa para a missa das 7:0h. Claro que não cabia em mim de tanta ansiedade. Afinal, seria o meu primeiro encontro com um rapaz e eu já tinha meus dezessete anos. A produção, naturalmente foi esmerada e lá fui eu, séria como sempre, sem sequer olhar de lado, para o cumprimento da minha obrigação religiosa. Na missa, apesar de muito compenetrada, não prestei mesmo atenção ao ritual. Na minha cabeça, só tinha o pensamento de me virar para trás e dar de cara com o meu  provável futuro namorado. A emoção era muita e havíamos combinado de não nos falarmos nem na igreja , nem  no caminho de casa, pra que os outros rapazes não percebessem. Afinal, seria um motivo para tirarem sarro da cara dele.
                        Fiquei um bom tempo sem ceder ao impulso de olhar para trás. Afinal, eu não podia demonstrar ansiedade. Tinha que ter compostura !!!  -Enfim olhei e dei de cara com um  “Santo Antonio à paisana”, que me abriu um lindo sorriso, ao qual correspondi. Depois fiquei na minha , não olhei mais pra trás e no final da missa fui embora feliz da vida : o cara era um deus grego !!!
                          Com permissão da minha tia, fui ao cinema onde minha amiga e sua mãe estariam à minha espera. E estavam com um rapaz que eu não conhecia. Fizeram-se as apresentações e eu muito sem graça entendi  que aquele era o meu pretendente.  Quase desmaiei, fiquei toda atrapalhada, porque sabia que ele tinha visto o meu engano na igreja. Talvez ele fosse até mais bonito que o outro mas fiquei decepcionada com a minha falta de percepção.  Entramos no cinema, eu , ele e as duas velas , uma de cada lado. Nem conversa aconteceu. Ficamos amigos e sempre estávamos juntos nos eventos como jogos universitários e festinhas na casa  das amigas. Dançávamos muito e todo mundo pensava que éramos namorados, ao ponto de se comentar na família o meu namoro e naturalmente a curiosidade da minha tia em saber quem era, de onde era, a qual família pertencia e o que seria na vida. Só que a despeito de tudo, ele era muito tímido e nunca passamos de bons amigos . Ele nunca me falou de namoro, nunca aconteceu nada e até hoje não sei se foi meu namorado. Só sei que quando apareci com um de verdade, ele desapareceu.  Acho que ele namorava comigo e eu não sabia !!!!
                     Só para complementar : se fosse hoje, com certeza eu não passaria de cabeça baixa pela casa do estudante, não teria ficado tão comportada na missa, não iria ao cinema cheia de velas e acabava com a timidez dele perguntando logo qual era a sua. Os tempos mudaram de verdade  e felizmente eu não parei nele como muitos contemporâneos meus !!!

Graça,julho/2012

sábado, 7 de julho de 2012


LAPIDAÇÃO

O tempo é um poderoso buril
Que sai aparando as arestas
Na sua lapidação suave e sutil ,
Aos poucos , com muito cuidado
Mudando a pedra ,cega e  bruta
Em diamante de brilho refinado.
Nossa  alma , uma vez  lapidada
Espalha luz na sua caminhada,
Se transforma em flama reluzente,
Penetra assim em muitas moradas
Abrindo as portas, levando brilho
Ao coração que embora resistente
Se ajoelha  de amor , em  pranto
Tremendo  o peito no seu pulsar latente.
Somos todos pedras brutas à espera
Das marteladas precisas  do artífice:
O  tempo que   ao passar se esmera
Em nos dar vida, amor e encanto.
Nada ao acaso no nosso viver acontece,
Tudo  é fruto da nossa luta  e mérito,
A vida se encarrega de nos abrir a conta
Cabendo-nos o dever de adquirir o crédito.

Graça,julho/2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

SE EU DESISTIR...


SE EU DESISTIR ...

Se eu dormir , me acorde .
Se eu chorar, me console.
Se eu não ouvir, grite alto.
Se eu errar, me corrija.
Se eu desistir, me convença,
Me chame de volta, me sacuda,
Me acuda porque  saí de mim.
Não me deixe ficar assim,
Tão só  e em desalento,
Porque tudo que na vida tento
É ser feliz e estar presente,
De olhos abertos  e secos,
Sempre ouvindo e seguindo
A voz  firme e premente
Do ser vivo  eterno e consciente ,
Que sopra no meu ouvido,
Palavras de amor, de luz, de viver,
De poder  estar e  ser  plenamente!!!

Graça,julho/2012

                          BANGALÔ   DE  PAU A  PIQUE

                          Nas minhas idas e vindas à grande cidade de São Paulo, fico sempre admirando os majestosos  prédios, um ao lado do outro que se multiplicam todo dia , formando uma verdadeira “Selva de Pedra”, uma cidade vertical, que aos poucos vai escondendo a sua história . Cada vez mais , vamos nos distanciando do centro, onde os prédios antigos, os palacetes, as ruas antes famosas ,vão sendo engolidas pela modernidade.
                          Acho admirável o desenvolvimento, a arquitetura moderna, cada vez mais inovadora, uma construção nova a cada 100 metros e me detenho diante do progresso e o do grande poder criativo do homem, voltando no tempo e lembrando de coisas que muito pouca gente que hoje vive por aqui, teve oportunidade de ver e viver.
                           Nesses  momentos , sinto-me quase  pre histórica, diante de lembranças que me levam aquém da civilização atual.  Vejo-me na praia, na  minha  querida  e distante Barra de Sirinhaem,  acompanhando a construção  altamente empírica e primitiva de uma casa de pau a pique. Como isso me  encantava ! Eu era muito menina ainda e  adorava tudo daquele lugarzinho de sonho.
                           Perto da nossa casinha de praia , que ficava no meio dos pescadores, meus amigos queridos que me faziam participar ativamente das suas vidas e costumes, sempre havia um, construindo sua casa . Era feito um mutirão e todos os amigos se juntavam para a construção. Primeiro , eles preparavam o terreno e logo apareciam os paus e barro, material utilizado  para  edificar  mais  uma casa  de pau  a  pique. Com a maior eficiência , eles faziam a armação de madeiras que se entrelaçavam e a casa era projetada com suas divisões mais ou menos iguais. O barro era muito bem amassado com os pés , numa dança quase erótica .  Depois , com as mãos  os  construtores iam enchendo os quadrados de madeira  e as paredes iam se formando. Tudo era feito no maior capricho e as paredes, como se de alvenaria fossem, eram alisadas com pás de pedreiro e depois caiadas. O piso , era de chão batido, lisinho como de cimento. Em poucos dias a obra estava pronta para a cobertura que na maioria das vezes , era de palha de coqueiro. As palhas eram tiradas e selecionadas. As folhas eram quebradas no tronco da palha e ficavam todas viradas para um mesmo lado. Depois eram colocadas uma sobre a outra como se fosse um telhado e amarradas uma a uma , ficando firmes e bem fechadas. Que maravilha !!!                                                                                                           No corpo da casa , ficavam os quartos , uma varanda , uma sala e uma cozinha. Na cozinha era construído, também de barro um fogão a lenha e um balcão , onde se colocava uma bacia para lavar a louça. Não havia pia porque não havia água encanada. Também não precisava de fiação porque não tinha luz elétrica.  O banheiro ficava fora da casa e era um cercadinho de palha com um buraco no chão onde se faziam as necessidades.   O banho era de bacia ou de canequinha. Eu, particularmente , achava tudo encantador e hoje fico pensando como era fácil viver naquele lugar.
                          Atrás da casa, sempre tinha uma cacimba, sem  muita  engenharia também. Cavou , achou água, pronto : o poço estava feito e a água era retirada com uma lata  presa em uma corda. Lembro do cheiro da água:  "cheiro de lama" .  Hoje sei que aquela água de poço tão raso e próximo de banheiro natural, devia ser altamente contaminada e imprópria para beber . A água potável, vinha de uma cacimba mais profunda. Pronto !  Logo uma família  ali  se instalava  e  era  só felicidade.   Os móveis  constavam de camas feitas de pau , tipo jirau  com uma esteira em cima  ou quando muito um colchão de capim.. Umas cadeiras eram enfileiradas na sala e na cozinha tinha uma mesa para as refeições. Estas , geralmente consistiam de peixe e um pirão feito com o seu molho. De vez em quando tinha um feijão e um pouco de carne de charque , de tartaruga ou galinha. O café era comprado em grão, torrado no fogão e socado no pilão de madeira , no fundo da casa.
                          Em volta do  BANGALÔ, geralmente se fazia uma cerquinha, onde galinhas , patos e até perus eram criados, à maneira caipira. Tudo de bom !  Os bichinhos saiam do cercado e circulavam pela redondeza, sempre voltando ao seu quintal .  Os porcos eram criados soltos e tudo era harmonia.
                         Geralmente, no quintal tinha um cajueiro, uma mangueira , um coqueiro e muito pé de flor.  O terreiro era muito varrido e  latas com plantas completavam o arrumadinho.  Era lindo de ver !!!
                         Eu, particularmente , adorava tudo isso e costumava andar pelos matos, que na praia são rasteiros, em busca ,principalmente de araçás  que davam em todo lugar. Minhas andanças eram descalça e sempre ganhava aquela coceirinha gostosa do bicho de pé. Ah !  Quanta  saudade dessa  experiência de vida !   Viver tudo isso , me fez ser uma pessoa mais ligada à natureza, à vida simples de pessoas simples, com sonhos simplórios e pequenas ambições. Aprendi a respeitar a vida como ela é e entender o viver de cada um.  Quando encontro pessoas que tem esse tipo de vida, consigo chegar nelas e conversar de igual pra igual, porque sou igual a elas .
                        Seria hipocrisia da minha parte , dizer que gostaria de viver assim hoje. Claro que dependo do conforto da modernidade, mas com certeza o meu espírito  se adaptaria a qualquer situação, até porque tenho uma vida no meio do mato e sou feliz com essa condição.  Ao olhar  os  imensos prédios de Sâo Paulo, sinto que não gostaria de morar trepada num deles, tendo que me submeter a um espaço limitado, elevador e regras de condomínio.  Sou mesmo um ser  meio primitivo nesse aspecto. Gosto de espaço, de silencio, de árvores à minha volta, de passarinhos cantando, de flores  sem “ pedigree “  colorindo os campos.
                         Meu “BANGALÔ” no meio do mato , não é  de   pau a pique , tem estrutura diferente, mas  não fica muito atrás  do que vi e vivi na minha infância privilegiada.  Falta a praia, faltam os coqueiros, falta o sol e o céu deslumbrante da minha terra, mas não deixa de ser  um  “ pedacinho de céu “.

Graça,julho/2012                                    

quinta-feira, 5 de julho de 2012

SÂO JOÂO DO PASSADO


SÃO JOÃO DO PASSADO

Mesmo depois de adultos, era sagrado passar o São João na usina e ainda comemorávamos do mesmo jeito. Mamãe fazia aquelas gostosuras da época e soltávamos fogos, agora comprados por nós e ainda fazíamos balões que dificilmente subiam. Era um barato!  Um monte de marmanjos tentando fazer um balão subir e sem muito sucesso. Divertíamo-nos pra valer.
                  A fogueira enorme era erguida em frente da casa, assávamos milho e fazíamos a maior festa. Uma vez o marido de uma empregada da casa estava lá em casa e falou que ia passar descalço por cima das brasas da fogueira, sem se queimar porque tinha fé em São João. Duvidamos da proeza e ele passou não uma, mas vária vezes sem nada lhe acontecer. Verdadeiro mistéeeerio.
                    Fiquei encucada com a história e me aproximei mais do sujeito, passando a conversa nele, que em pouco tempo me revelou o segredo. Fiquei quieta e não falei nada pra ninguém. Em dado momento , depois de me encher de coragem, falei pra todo mundo que eu iria fazer o mesmo porque São João queria uma prova de minha fé.  Todos torceram para que eu fizesse o prometido e lembro que só Seu Abel ficou  preocupado. Fiz toda uma cena e depois de muita hesitação,   passei por cima das brasas ,descalça e nada aconteceu. Desafiei todo mundo , ninguém se atreveu. A fé era pouca.  Mais uma vez eu era uma heroína e estava muito orgulhosa.  Depois de muito tempo contei o truque. O negócio é que estava chovendo e a terra molhada. Ficando algum tempo com os pés descalços sobre a terra molhada, não queimava os pés.  Segredinho besta, mas que enganou todo mundo e eu saí de poderosa e de muita fé.
                   Não tem como esquecer esses momentos em que nos divertíamos em família ! Eram momentos de muita alegria e amor entre nós. Papai e Mamãe valorizavam essas datas e ficavam felizes com a nossa presença.
                  Hoje eu morro de saudades de tudo isso e agradeço a Deus por me dar a facilidade de recordar com detalhes um tempo de muita ventura, em que curtíamos o presente e a presença de todos e sonhávamos com um futuro  igual. Muita coisa mudou nas nossas vidas , mas nada mudará a felicidade que tivemos juntos na usina Trapiche!!!

Graça,junho/2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012


OS  VERSOS  EM  MIM

Fazer versos é um gosto meu, de quem
pensa e sonha, acho eu, mais do que faz .
Fazer versos não é ser poeta . Na verdade,
fazer rimas  é  só  escrever o que  me  apraz.
Na primavera da vida eu tinha vontade
de falar de amor, romance, sentimento
que eu nem de longe  ainda conhecia.
Adulta, meus versos eram de sofrimento
E eu nem sequer no papel escrevia
O tempo passou e  fiquei sem tempo
de pensar nas coisas de amor , do coração
E assim de trabalho minha vida preenchia.
O  outono chegou, levando a cor dos cabelos,
levando a força do trabalho, mas o brilho
do sonho ficou e a vontade de viver aumentou.
A memória se apurou, a saudade apareceu
e a vontade de escrever , em mim não morreu.
Observadora da vida ,do que acontece enfim
Abro minha alma , me mostro por inteiro
e saio rasgando o véu do infinito em mim,
sem programa, sem drama , sem roteiro.
Faço meus versos singelos, divido o que sinto,
o bônus  que a vida tem me dado todo dia,
O que aprendo e ganho em amor e harmonia.

Graça,julho/2012

POBREMA X POBLEMA


                    POBREMA  x  POBLEMA


                    A nossa vida é normalmente cheia de novidades e o bacana de tudo é exatamente não saber o que vai acontecer daqui a poucos minutos. As esquinas são tantas e tão surpreendentes que temos que ter cuidado ao virá-las porque não sabemos o que nos espera. Às vezes, estamos alegres , dispostos, achando tudo maravilhoso e de repente um telefonema , uma resposta mal humorada , uma mudança de tempo, nos tira do sério e modifica por completo o nosso estado de espírito.  Deixamo-nos levar por fatores externos pequenos , insignificantes e perdemos nosso controle.
                    Eu sempre me surpreendo com as coisas do dia a dia , que acontecem ao nosso lado e como uma coruja que tudo observa presto uma atenção enorme  no que as pessoas fazem e dizem e muitas vezes me divirto. Aprendi a fazer de cada situação uma lição e  aproveitar as chances de adaptação,  para ser mais flexível e exigir menos de mim e da vida, sem perder o direito de estar bem.
                    Tive oportunidade de viver uma experiência muito interessante , quando morei no Rio. Eu morava em Niterói , mais precisamente em Icaraí, um lugar privilegiado, perto da praia perto de tudo. Só que o meu trabalho era no Rio , num subúrbio perto de Caxias e eu tinha que diariamente fazer um percurso enorme , pegando normalmente três conduções prá ir e pra voltar. Eu saía de casa às 5:00 da matina e só não levava marmita. A primeira condução era um ônibus que me levava até as barcas para atravessar a baia. Já na Praça Quinze, pegava a terceira condução, um ônibus que percorria toda a Av. Brasil , como se fosse um BATMÓVEL.  Claro que apesar da velocidade do mesmo , nunca consegui chegar ao trabalho na hora certa.
                    Essa aventura , nova na minha vida, nunca me tirou do sério. Eu curtia cada conversa, cada comentário. O motorista do ônibus como bom carioca era sempre muito falante e irreverente. Quando via uma mulher “ mais gostosa”, colocava a cabeça pra fora e aos gritos dizia coisas do tipo :  “ Cuidado com o jacaré!”, “Quero você lá em casa!”  Ninguém se aborrecia, a mulher seguia seu caminho rebolando a bunda e  os passageiros do ônibus davam risadas.  Parecia que as pessoas estavam abertas pra esse tipo de descontração. E assim, aconteciam coisas realmente surrealistas. Nunca me senti agredida, nunca me senti discriminada por ser nordestina, coisa que sempre fiz questão de não esconder.
                     Hoje vivo em São Paulo, essa  Metrópole  austera , onde as pessoas de todos os lugares do mundo correm sem parar e não tem muito tempo de observar o que acontece ao seu redor. Aqui também, continuo falando meu PERNAMBUQUÊS fluente e ouço muito as pessoas dizerem que adoram o meu sotaque. Deve ser verdade porque o que mais tem nessa terra é nordestino. É raro pra mim , pegar uma condução coletiva, mesmo  porque moro fora do perímetro urbano e não trabalho fora, mas adoro fazer isso e ficar atenta ao que as pessoas falam. É muito engraçado ouvir coisas diferentes e perceber a filosofia de vida de cada um . Adoro andar de ônibus e de metrô, adoro observar o jeito de vestir de  cada um com seu estilo “ NADA A VER” e  a coisa que mais me impressiona , são as  “ PERUAS” que andam pela calçadas  irregulares com seus saltos altíssimos , como se estivessem num salão de festas. Fico pensando como conseguem usar muitas vezes o mesmo sapato. Eu não conseguiria!  Outra coisa que acho muito interessante nas ruas de São Paulo é a classe médica ( da saúde)  fazer questão de usar o seu  avental, jaleco  branco ,como se isso servisse para diferenciá-la das demais, quando sabemos que o jaleco  é exatamente prá evitar a contaminação da rua dentro do hospital ou consultório. Mas em SAMPA , essa moda pega.
                       O vocabulário é  outro detalhe muito interessante e pela diversidade de nacionalidades e regiões da população, ouvimos coisas realmente inacreditáveis.  Os verbos tem suas conjugações destruídas, derrubadas e alguns termos usados são totalmente dignos das” BUZINADAS  DO  CHACRINHA”.  Nesse aspecto , tenho uma história contada por  Marize , uma amiga da Silvia, minha filha, que faço questão de divulgar por ser de uma criatividade sui generis .  Ela estava num transporte coletivo, se dirigindo para o trabalho e ao seu lado , estavam duas  mulheres que aí se encontraram e começaram a conversar. Após os cumprimentos : como vai? Como vão as coisas?  -  Uma delas falou : -  Pois é  menina eu tou cheia  de POBREMAS, e em seguida complementou  -  Não  sei se  o certo  é  dizer  POBREMA  ou  POBLEMA.                                                                                                                       A outra pensou um pouco e com muita  convicção e autoridade falou : -  O negócio é o seguinte :  Quando é  meu,  “ É  POBREMA, “  quando é dos outros, “  É  POBLEMA”.            E assim , surgiu uma regra de português muito  complexa  e  difícil, porque eu por exemplo,nunca sei se estou com  um POBREMA   ou  POBLEMA  !!!!!
                      Na  verdade  eu  FAZERIA  qualquer negócio pra PONHAR o meu POBREMA na  cabeça de quem gosta de um  POBLEMA !!!!!
Graça, junho/2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

MARIA CLEA ( Minhas recordações)




                    Quando a saudade me “ arrodeia” , as lembranças afloram e eu me dou o direito de esquecer o que sou hoje, uma mulher em plena “MELHOR IDADE” e ,corro descalça pelas campinas do meu mundo encantado de criança. A usina Trapiche, surge  grande , maior do que era realmente e eu volto a ser aquela criança que teve a felicidade de ser uma criança de verdade:  danada, mentirosa, curiosa , que adorava uma novidade.
                     Estou de volta aos meus  oito anos, creio que a fase mais gostosa da minha infância.
                      O Natal já tinha passado e nós nos arrumávamos para ir passar as férias na praia. Papai anunciara que eu teria uma companheira naquele verão. Ele , no seu trabalho de agrônomo , visitava todos os engenhos que forneciam cana para a usina e assim fazia amizade com muita gente . A minha companheira era filha de um senhor de engenho e tinha uma equizema  na perna. Meu pai ficou sabendo e como bom   “ Médico” que também se achava, se ofereceu para levar a menina para a praia porque o banho de mar certamente seria benéfico para ela. Tudo combinado e acertado e eu estava na maior expectativa para conhecer a tal garota.  Fomos para a praia e uns dias depois , papai levou Maria Clea. Ela chegou meio desconfiada, não conhecia ninguém, mas logo fizemos amizade e foram umas férias deliciosas. Não lembro se sua perna melhorou, mas ela se divertiu pra valer. Fizemos todos os programas que me eram peculiares, como ir ao mangue, pegar caranguejo , andar de perna de pau, ir muito longe buscar caju e outras coisinhas mais. Com certeza botei a menina no mau caminho, visto que ela era muito quietinha e  educada.
                     Voltamos da praia e como ainda tinha uns dias de férias, o pai de Maria Clea me convidou para passar uns dias no engenho deles. Foi uma ideia brilhante e fiquei num assanhamento só.
                      Saímos da usina montados num burro, a menina , o pai e eu. Já era quase noite e fizemos toda a viagem no escuro. Em cima do lombo de um burro a 1km por hora. Que programão !  Achei o máximo!
                       Chegando no engenho, logo percebi que não tinha luz elétrica e a iluminação era à base de candeeiro de querosene, coisa que eu estava acostumada porque na praia também era assim.  A casa era grande e cheia de quartos. A mãe dela , uma pessoa carinhosa, me acolheu da melhor forma possível.  Lembro muito bem do engenho, de uma lagoa na frente de casa, dos patos nadando e da irmãzinha da minha amiga, uma garotinha de uns três anos, muito gorduchinha , com olhos azuis e cabelos cacheados, de nome Iolanda.
                       Não havia  muito  o   que fazer  no engenho e nossa maior distração era tomar banho numa bica, perto da casa. Era uma delícia. Os dias eram curtos e as noites muito longas, porque como não tinha energia, íamos cedo pra cama, logo após o jantar. O mais gostoso era o café da manhã :  um prato de jerimum (abóbora) com leite quente tirado na hora, direto da teta da vaquinha. Fui embora com saudades daquele lugar tão diferente da minha realidade, daquele bucolismo que apesar de morar numa Usina , no interior, eu não conhecia.
                         Não lembro de ter encontrado novamente aquelas pessoas. Nunca mais fiquei sabendo da minha amiguinha Maria Clea e por um bom tempo quis muito saber dela, do que fez na vida. Hoje ,fico pensando como as pessoas passam pela nossa vida e marcam a sua passagem. Com certeza , eu marquei a vida dela porque sei que fui uma ótima professora de travessuras.
                         Quanta saudade boa de um tempo maravilhoso ! Parece que foi ontem que tudo aconteceu e lá se vai mais de meio Século !!!!

Graça,junho/2012

terça-feira, 26 de junho de 2012


UMA LUZ NO FIM DA ESTRADA

Minhas lágrimas são de sangue
Quando chora o meu coração
Meus sonhos são  de sombras
Minhas esperanças, assombração.

Meus dias são noites sem fim
As horas se arrastam dolentes
Minha alma triste me deixa só
Ao abandono das dores prementes.

Tanta ilusão perdida no tempo
Tanto tempo perdido em vão
E a vida célere  vai em frente
Trazendo mais uma decepção.

Fazer o que diante do sofrimento?
Secar as lágrimas, acalmar o coração
Abrir a janela, afastar os espectros
Reverter o tempo , fazer uma oração.

A vida não  para diante de um percalço
O tempo ,nada consegue  parar
Há sempre uma luz no fim da estrada
Há sempre uma surpresa a me esperar !

Graça,junho/2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

VÉSPERA DE SÃO JOÃO NA USINA TRAPICHE


              
 

              Sto. Antonio passou , foi festejado e mais do que isso cobrado pelas meninas, moças e até velhas que queriam  um casamento de qualquer jeito “ nem que for no militar”. As adivinhações foram muitas, os castigos também e o pobre coitado do santo que virou cupido um  dia , nunca mais foi deixado em paz. Espero que pelo  menos, tenham feito muita festa pra ele, com muita fogueira, fogos e tudo.  Aliás ,  acho uma grande injustiça tudo isso, porque enquanto São João dorme, Sto. Antônio trabalha pra mulherada e quem é mais homenageado é o outro. E ainda tem São Pedro que vem depois. É um mês de alegria para o povo nordestino que não mede esforços para fazer festa das boas.
                De longe , acompanho os folguedos e é hora de ir lá pra Usina Trapiche, buscar as lembranças e botar a cachola pra funcionar , caprichando nos detalhes. É a vez e hora dos sanfoneiros atacarem  com suas músicas  gostosas de ritmo sacudido, bom pra dançar.
                 A essa altura, já preparamos o  milho , o coco, a castanha e mamãe com sua habilidade , mostrava como se fazer a melhor canjica, aquela pamonha incomparável e o  pé de moleque mais gostoso. Ela ainda fazia o bolo Souza Leão, que não podia faltar. E antes de começar a festa, nos servia o seu mingau de milho verde, delicia exclusiva sua.
                 O banquete estava pronto e era hora de tomarmos banho e vestir as roupas novas que dona Graça havia feito. Num dia assim, nem precisava mandar e todo mundo corria para o banheiro, disputando quem ia primeiro. Nossa curiosidade era para com a caixa cheia de fogos que papai distribuiria em seguida. Era chegado o melhor momento.  Seu Abel , muito solene ,entregava os fogos de acordo com a idade. Os mais velhos tinham direito até aos foguetes e fogos mais potentes. Havia as pistolas , os vulcões, busca-pés, peido de véia , cobrinha elétrica, chuva de prata estrelinhas , traques de massa e outros que não lembro. Fazíamos a nossa festa no céu.
                 Às seis horas da tarde, quando começava a escurecer, o nosso pai cumpria a solene missão de acender a fogueira, coisa que só ele sabia fazer e nós já começávamos a farra dos fogos. A casa se enchia de fumaça e Lia coitada, a essas alturas já gritava no banheiro, porque os meninos enfiavam fogos pelo buraco da fechadura e deixavam ela louca de desespero. Era muito bom ! Fecho os olhos e posso ver os foguetes subindo e a gente correndo com medo que as tabocas nos caíssem na cabeça. Bolas luminosas e coloridas estouravam no céu , o vulcão jogava fogo e fagulhas coloridas enchendo nossos olhos de sonho e alegria. Brincávamos em volta da fogueira que ardia rápida e voraz e assávamos o milho em espetos que papai preparava pra isso.
                Nessa época , sempre havia uma chuvinha que não conseguia atrapalhar a nossa festa, mas com certeza devia perturbar dona Graça, porque na nossa euforia , entrávamos e saíamos  de casa, sujando tudo. Brincávamos e devorávamos as gostosuras que estavam na mesa.  Como sempre era tudo muito mágico !
                O clube promovia o baile com quadrilha e pela noite a dentro o arrastape´ rolava na maior alegria. E a grande fogueira queimava até o dia seguinte.
                 Em 1955, lembro com um pouco de tristeza que a nossa noite de São João, não foi das mais alegres. Os três irmãos mais velhos estavam em Recife estudando e não passaram a festa conosco. Não sei se por eles não terem ido pra Usina ou se porque diante das despesas com duas casas, a grana estava curta, nós três que ficamos lá, Eduardo, Luiza e eu, não tivemos fogos e sofremos com isso. Papai deve ter sofrido muito mais , vendo-nos queimar papel e jogar pra cima como se fossem fogos.
            No ano seguinte, não foi diferente. Aí Murilo também estava na Usina, porque foi o ano que ficou sem estudar. Luiza estava com catapora e o São João também minguou. Não tivemos a nossa festa de sempre e por muita insistência minha e de Murillo, papai nos deixou ir até o clube, na condição de voltarmos às 10 :00 h.  Eduardo era muito pequeno e ficou com Luiza. Murilo e eu fomos para o clube e lá ficamos dançando e nos divertindo. Murilo, mais consciente, me chamou para ir embora na hora determinada por papai, ao que respondi que ainda era cedo e ficaríamos um pouco mais. Quando chegamos em casa, já era quase  meia-noite. Chegamos muito quietos e quando tentamos abrir a porta que deveria estar aberta, a surpresa :  papai estava sentado na sala nos esperando. As desculpas esfarrapadas não adiantaram nada e ele devagar, tirou o cinturão da cintura e claro , primeiro me pegou ,porque sabia que a responsabilidade era minha. Levamos umas boas cintadas na bunda, pela nossa desobediência. Só que eu estava com muita saia de armar e Murilo com uma calça grossa e não doeu nada. Eduardo e Luiza ficaram gloriosos porque não tinham ido e adoraram a surra. Murilo e eu ficamos dando risadas depois que papai saiu. Na verdade a surra foi só pra manter a ordem, porque papai não era de espancar filho.
                    Quanta recordação e que saudade desse tempo! Que criaturas maravilhosas eram nossos pais.  Como foram sábios em nos passar valores e como souberam proporcionar magia e encantamento na nossa infância privilegiada!  Papai , apesar de ser muito carrancudo , não nos impôs medo e sim respeito e mamãe, aquela criatura doce, frágil e emotiva, sabia manter a harmonia e o equilíbrio do lar !!!

Graça,junho/2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012


        SÃO  JOÃO  DA  USINA  TRAPICHE ( Os preparativos )

               Há muito tempo  atrás , num lugarzinho perdido na zona da mata sul do Estado de Pernambuco,  vivia uma família muito feliz  e eu fazia parte dela, o que me dá o orgulho de reviver esse tempo, relatando  para todos o que de especial  havia  lá.
               Assim começam os contos de fadas e a nossa vida na Usina Trapiche foi um conto de fadas, daqueles em que bruxas não tinham vez porque o amor reinava  e a felicidade era nossa grande companheira.
               Hoje , eu quero relembrar as nossas muitas festas de São João,  já que estamos tão perto da data comemorativa.  Volto ao refúgio mágico da nossa infância e tento  restaurar  com muito cuidado  as imagens  perdidas no tempo. São tantas e tão preciosas !  São um acervo  sem preço, sem  substituição, tombado  pelo nosso patrimônio familiar.
               Éramos  seis  crianças normais, peraltas  e felizes  , só isso !  Nessa época do ano, a  nossa excitação aumentava e ficávamos a mil por hora, esperando a festa de São João. Os preparativos começavam poucos dias antes.  Na frente de cada casa era construída  uma fogueira. Digo construída porque fugia aos padrões normais de tamanho e era uma verdadeira construção de madeira , a ser queimada na véspera do dia do santo mais comemorado do Nordeste.  Ficávamos acompanhando o trabalho  dos homens que empilhavam as madeiras, formando as enormes fogueiras  que se enfileiravam  em toda a rua. Cabia-nos a decoração que era feita com folhas de coqueiro  e algumas bandeirolas coloridas.
                Dentro de casa, em cima do guarda- roupas do quarto dos nossos pais, havia uma caixa  fechada, que sabíamos se tratar do tesouro  de nome  Caramurú. Ali , estavam  os fogos que receberíamos no dia da festa.  Papai os comprava todos os anos  e nós já esperávamos por isso.  As músicas juninas  tocavam freneticamente no rádio e nós aprendíamos todas com a maior facilidade.
                 O clube da usina promoveria o baile e a quadrilha era ensaiada com antecedência. Formavam-se os pares  e nós dançaríamos a quadrilha. Acontecia de nem sempre , a dama destinada a um dos meninos, ser a que ele queria e aí  tinha choradeira e um grande esforço de mamãe em fazer o insatisfeito  aceitar a sua parceira. Eu também dançava a quadrilha e como sempre odiava a produção de mamãe e Lia que prá começar  faziam aqueles cachinhos no meu cabelo , me deixando com cara de “ nega maluca”. Elas sempre inventavam alguma coisa que eu detestava. Para  mim , era suficiente o vestido de matuta ( caipira) e uma pintura na cara, como todo mundo fazia. Mas,  não !  As duas sempre queriam inovar e eu era a vítima. Uma vez queriam que eu usasse as botinas dos meninos e eu não achei graça nisso. Chorei muito, não queria mais  dançar, mas no final eu sempre pagava o MICO, por obediência. Naquele dia eu me  senti  a ridícula das ridículas !
                  Um dia antes da festa, todo mundo trabalhava, ajudando mamãe a preparar os quitutes.  Tínhamos   que descascar o milho com cuidado para não estragar as palhas , que seriam usadas  para envolver as pamonhas. As  espigas  eram  cortadas  com  uma  faca , debulhando-se todo o milho para fazer a pamonha , canjica e o famoso mingau de milho verde que papai adorava.  Tínhamos que moer os grãos na máquina de moer carne e ralar o coco para fazer todas as  gostosuras .  Dona Graça se esmerava na preparação de tudo e  só nós sabemos como era  maravilhoso. Não era trabalho, era pura diversão  e nós adorávamos fazer tudo aquilo.
                      Eram os preparativos para a festa que se avizinhava  e todos nós contribuíamos .    Dona Graça, a essas alturas , já tinha feito nossas roupas na sua velha máquina de costura e como sempre cantando e nos envolvendo no clima de felicidade que nunca vamos esquecer.   Ela e seu Abel sabiam como nos agradar e sem dúvidas marcaram prá sempre as nossas vidas, com essa devoção incondicional.
                      São muitas as lembranças, é imensa a saudade, mas é muito bom ter o que lembrar e trazer para o presente, as nossas alegrias do passado

Graça, junho /2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012


         DIA  DOS  NAMORADOS

         “Hoje é dia  dos namorados
           Toda terra está em  flor
           Só se vê menina e moça
           De braço dado com seu amor “

           Em mil novecentos e bolinha,  ou  seja no século passado, saudoso e cruel para quem nele viveu,  Já  havia o  DIA DOS NAMORADOS, só que namorar  era  pegar na mão, passear de braços dados , ir ao cinema com  uma vela de contrapeso, uns beijinhos e abraços tímidos na frente dos outros.  Isso era  namorar !  Tudo o mais era às escondidas. 
             Na primeira oportunidade  a sós ,  era  mão na mão,  mão naquilo, aquilo na  mão  e aquilo naquilo.  Quando  acontecia  uma gravidez  inesperada, ninguém sabia porque. Em geral, a VIRGEM pura e inocente devia ter sentado na tábua  de  um  sanitário qualquer  em algum lugar , onde  estava com certeza,  um  espermatozoide  perdido e,   assim se deu a fecundação. É , naquela época já existia inseminação artificial por obra e graça do Espírito Santo.  Quando uma moça casava, todo mundo fazia as contas quando nascia o primeiro filho, prá  ver se ela já não estava grávida. Gente, era muita perseguição e muito fiscal de xoxota  alheia !!!
             Os jovens da época , com os hormônios em ebulição, tinham que se controlar ao máximo  quando tinham oportunidade de uma esfregação.  O rapaz deixava  a namorada tremendo de excitação e se aventurava nos bordéis da vida,  se habituando ao sexo instintivo e animal, sem o menor sentimento, correndo riscos de doença e até de deixar por lá um futuro “filho da puta”,  pois que mulher dama também ficava grávida. Não havia anticoncepcionais, nem a pílula do dia seguinte que hoje salva os incautos.
              Quanto moralismo  barato !  Fingiam que  ninguém  transava !  Acho até que por debaixo das saias rodadas das mulheres de antigamente, não havia calcinhas para facilitar as coisas. Todo mundo fornicava escondido, por debaixo dos panos. Na época  “ lua de mel “ era realmente um  mel na lua. O  enfim  sós,  era a felicidade de poder fazer sexo permitido, e realmente curtir os prazeres da cama. Não havia motéis  e só  matéis  e carréis , o que dificultava  uma escapada prazerosa .
              Mudou muito, tudo mudou prá  melhor , ao meu ver.  Namorar ,  hoje em dia não é só prá menina e moça, é para todo mundo.  Velho também  namora, casados também curtem o dia dos namorados.  Tudo bem, que como outras datas comemorativas, o dia dos namorados também  tem  seu cunho  comercial e ainda se percebe  muita falsidade   comportamental, principalmente nos casais que estão na fase de reformular a paixão  e conviverem por amor.  Fui jantar com o meu marido, que num ímpeto de romantismo me levou a um restaurante, onde havia todo um clima para o dia. Fiquei observando os casais que alí estavam  e percebi que a maioria, estava cumprindo uma obrigação. Os casais que conversavam e curtiam o clima criado, eram muito jovens ou muito idosos. Todos estavam comemorando o seu dia mas os namorados eram poucos. Não havia muita animação.  Com certeza  os verdadeiros namorados estavam nos motéis ou nas baladas. Pensei que mesmo quem  não tem namorado, se arruma com um ficante, sem falar que as periguetes de plantão , estão aí distribuindo prazer para quem quiser. Ninguém ficou sozinho com certeza e graças a Deus as moçoilas de hoje não correm o risco de  chamegar  bastante com seus namorados e ficarem a ver navios enquanto eles  saem correndo em disparada para os braços de uma dama da noite.
                E assim percebe  quem viveu no século passado ,que as coisas mudaram no sentido da moral e bons costumes.  Namorar ,  hoje tem conotação muito diferente, tanta que até o estado civil das pessoas não tem mais a menor importância. Solteiro é só aquele que não tem ninguém,  casado  é quem  vive  junto  e todos  são  namorados ,  amados  e amantes , independente de orientação sexual , de idade e de compromisso , sem hipocrisia e sem frescura !  Prevalecem  o  AMOR  e a vontade de estar com quem se quer e  com quem   lhe faz bem !!!
                E um  viva aos  NAMORADOS  !!!

Graça,junho/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

CASAMENTO



              CASAMENTO

             Os tempos mudaram, a vida mudou  e nós  vamos  nos  adaptando  a tudo ,  embora  o saudosismo  não nos abandone.  Muita coisa perdeu a  graça , a  hipocrisia saiu de cena  e deu lugar à uma liberdade  consentida e de uma  certa   forma  saudável !  É, as máscaras caíram  e todos são mais espontâneos e autênticos. Acabou  aquela  história  de dizer que  fulana  não é mais  moça   e ficar  no exílio  do “caritó” , porque  homem  nenhum    comprometeria   a   sua macheza para casar com uma pobre coitada que se perdeu. Perdeu  não sei o que  ,porque na verdade ela se achou e se  tivesse juízo,  nunca  mais  seria achada.   O mundo   era  cheio   de “vitalinas” puritanas que prá não  darem o braço a torcer ficavam solteironas o  resto  da  vida, guardando prá S. Pedro , o seu tesouro roubado. Mas ninguém podia saber de nada.  Era tudo por debaixo dos panos. E assim, as teias de aranha se instalavam e pronto,  acabou.  Ninguém ousava  se rebelar contra o sistema prá não ficar falada.  Hoje  o que vemos é uma verdadeira bagunça  . Ninguém está se preocupando  com que  o  povo fala  ou deixa de falar e  não  tem mais essa de pedir a mão da moça ao pai dela porque já levou tudo mesmo.  Quem tem o que dar ,dá mesmo e está  tudo certo.  Virgindade   é  coisa  do  passado.     A moçada   sabe  tudo , conhece o sexo e vive  suas  emoções sem culpa. Os da “melhor  idade” não  deixam  de   viver porque  chegou ao  ocaso  da vida.  Todo  mundo   transa ,  fala-se  abertamente  de  orgasmo , procuram  o  ponto “G” e  ainda  tem  o  Viagra  prá  contornar  os  probleminhas dos que não conseguem”  bater continência” .Todo  mundo relaxa  e goza  com  alegria  e sem   encucação.    Até   as viuvinhas estão alegres. Claro, a vida continua e ninguém fica mais coberta  de preto  chorando um morto que às vezes  nem  era    essas coisas todas.  Nem  é  preciso  guardar o “pinto do falecido” para matar as saudades e os maridos de hoje morrem em paz. sabendo que não correm o risco de uma amputação e embarcam com todo seu machismo incólume.
                    No passado, a coisa era muito diferente.  Casamento  era a única opção  da  mulher que esperava um bom partido para ser o seu Senhor , com o dever precípuo de lhe  dar filhos e fazer o que ele queria. Na  cama , a mulher era tão respeitada , tão respeitada , que não sabia nem o que era um orgasmo. Ninguém  sequer  falava  nisso.    O homem ,    por  sua  vez , por  ser  um  safado   por excelência  ,dava vazão aos seus  instintos , procurando  fora os  prazeres  da  carne.     Era   um respeito muito louvável !   Macho nenhum   queria   uma puta  na  cama  do seu  lar.   E o  falso moralismo imperava.  A mulher  se submetia  e se achava a dama das damas.  Se  uma  esposa  infeliz  chorava  suas mágoas,  sempre  ouvia  um sábio  que dizia : “ Ruim com ele, pior sem  ele”. Por incrível que pareça tinha homem que não deixava a mulher raspar o sovaco, porque era coisa de prostituta.  É, não estou exagerando não, a coisa era feia. Hoje , a mulher não só depila  as axilas como tudo que tem pelo.  Outro  dia , perguntei  no  salão  o significado  do  que  estava  escrito  em  uma  placa de  depilação :  “ virilha, parcial , completa” . A moça achou engraçado e me explicou que completa era quando tirava todos os pelos , até do fiofó. Dei muita risada e fiquei a pensar no procedimento, que a mim, por certo incomodaria, mas há de se entender porque sou antiga e  recatada.  O homem deve se sentir um pedófilo diante de uma mulher sem pelos pubianos. Muito estranho prá minha cabeça , mas com certeza muito excitante.
                      Antigamente, cuidar dos filhos, era obrigação da mulher que tinha que se virar de todo jeito prá dar conta do recado. Trocar uma frada, fazer uma mamadeira ou levantar à noite não era coisa de macho e a mulher não tinha direito de ter por exemplo, uma depressão pós parto.  A gravidez era só dela e ponto final. Hoje , os homens fazem até cursos de pais , ficam grávidos junto com a esposa e participam de tudo que se refere ao filho . Lindo isto !!!   O casal vive o casamento com harmonia e participação ativa dos dois , tanto no que se refere aos afazeres domésticos quanto à questão de prover as despesas. O casamento passou a ser uma sociedade de fato, sem que prevaleçam direitos de um ou de outro.  A possibilidade de se desfazer facilmente proporciona uma relação mais aberta , uma cumplicidade maior e apesar de muita gente casar por casar, por força de uma paixão, os casamentos construídos com amor e objetivo de formar uma família têm tudo para o sucesso. A mulher não deixa de se realizar como pessoa , como profissional e o homem   moderno  não  se sente  ameaçado  com  seu sucesso. Essa , a parte boa do casamento de hoje.  O grande problema é a falta  de consciência de muitos, que não entendem a importância de uma instituição tão sagrada e importante , esquecendo que o casamento envolve vidas, deveres para com a família, a formação de um lar de verdade. Muitos priorizam o sexo, os prazeres da vida a dois , esquecendo a  compreensão mutua , o respeito, as abnegações, o amor verdadeiro e construtivo.
                   Olhamos com tristeza os desenlaces precoces, por falta de estrutura e de amor. É normal hoje em dia , os filhos não terem os pais presentes ,crescerem sem a figura paterna e sofrerem o descaso de muitos que não têm a noção de responsabilidade. A banalidade do casamento ultrapassa para muitos, as fronteiras  do entendimento  do que significa  uma relação  a dois, com o propósito de unir vidas e formar uma família. Estes partem para o casamento com a finalidade de ficar juntos, mas não se dispõem ao entendimento recíproco e fazem tudo errado, contando com a facilidade de uma separação. Nada os prende , porque estão envolvidos apenas, em uma  paixão fugaz.
                   É comum hoje, a teoria de “ não levar desaforo prá casa”  e “discutir a relação”, como se resolvesse alguma coisa. Ninguém, ao querer ficar junto, pensa nos defeitos do outro e nos seus próprios . Falta tolerância e amor. Quem ama de verdade, entende que as diferenças existem e respeita a personalidade do companheiro, procurando harmonia. Brigas, são normais, agressões não. A cumplicidade é mola propulsora para a realização dos dois. Não existe, nem nunca existiu casamento perfeito.   Existe  sim   casamento  duradouro  de  duas pessoas  que com sabedoria , sabem  cultivar o amor, que deixa de ser paixão e ao longo do tempo se transforma em amizade, em  compreensão  e  respeito,   uma  sociedade  onde  os direitos são iguais e admiração e prazer em estar juntos são reais. A felicidade é de cada um , não dependendo do que outro pode ou não dar. O respeito à individualidade de cada parceiro  é condição “sine qua non” para o bom entendimento.
                  Nos casamentos do passado ,havia a obrigação dos conjujes ficarem juntos  por uma convenção social. A hipocrisia era muito grande. Hoje, os casamentos duradouros são os verdadeiros, aqueles que perduram por amor, já que ninguém mais se preocupa com o que se pensa ou deixa de pensar. Apesar de banalizados , os de hoje são mais verdadeiros e mais felizes.
                 Como cantava  IVON CURI , da velhíssima guarda, contemporâneo de Caubi  Peixoto :   “Namorar é bem bom, namorar é bem bom, mas casar obriga- d- o- do.”  Tem muita gente que é melhor pensar assim e curtir sua solteirice, porque casamento não deixou de ser uma coisa séria e a família é a base de tudo !   Eu , por exemplo , gostei tanto que casei duas vezes, mesmo com um dedo podre para isso !!!!

Graça,junho/2012