quinta-feira, 4 de outubro de 2012

MEU  IRMÃO     FÊNIX “                  

           Dos seis filhos de seu Abel e dona Graça,  o mais velho , Valério, se destacou pelo seu grande poder de superação  e  pela sua tenacidade  em viver a vida com a força da esperança e  da fé em Deus e  em si mesmo.
           Nascido em 4 de outubro de 1938,  essa pessoa  rara está completando  74 anos de uma existência  rica de experiência e sabedoria.  Sua trajetória é de muitas  esquinas, algumas muito boas , outras difíceis, que ele , com seu coração remendado superou muito bem , sendo hoje um homem abençoado  pela família maravilhosa que tem e pela felicidade de poder desfrutar do amor de tantos.
           Voltando no tempo, vamos a 1948 mais ou menos, quando resolveu  fazer feliz uma família católica, que na época era honrada com a vocação religiosa de um de seus filhos. Hoje eu me pergunto se alguém com 10 anos pode ser levado a sério quando diz que quer ser padre.  Bom, parece que ele falou e o pegaram na palavra  !   Maravilha!    E  Valério foi para o Seminário de Olinda, onde ficou 4 anos, deixando um vazio enorme na nossa vida na Usina Trapiche.
          Ele vinha nas férias, vestido de batina preta e chapéu.  Imaginem um baixinho vestido de padre e cheio de compenetração!     Na hora do futebol, ele puxava a batina pelos bolsos para jogar e na praia usava um enorme calção para o banho de mar.  Nós ficávamos fascinados com o  PADRECO.  Mamãe e papai  não cabiam em si de tanto orgulho.
          Nas últimas férias que passou na praia, a sua vocação não resistiu aos encantos  das LUZES DA RIBALTA  que Socorro cantava cheia de sensualidade e aconteceu o desastre :  Valério não voltaria para o Seminário e a notícia chegou como uma bomba atômica , deixando toda a família atordoada.  Nosso  futuro  PAPA  encerrava sua carreira religiosa. Acho que os hormônios falaram mais alto e o  celibato não era sua praia.
          Graças a Deus  aconteceu .  Nós nos livramos de um monte de cunhadas    “ MULAS SEM CABEÇA”  e de um monte de sobrinhos” FILHOS DO PADRE”.   Com toda sua macheza, com certeza esse padreco iria dar material para um seguidor  de  Eça de Queiroz ou para  Nelson Rodrigues.  Ainda bem que desistiu e resolveu ser empresário e fazendeiro,  coisa que conseguiu com muita maestria.   Bons tempos  aconteceram  e ele provou o gostinho de ser rico  e nós  ainda pegamos uma carona na sua riqueza.  Só que ele escolheu viver nessa vida, muitas experiências de uma vez e dobrou todas as esquinas.  Até pizzaiolo  o  rapaz foi .  Hoje é um homem plenamente  feliz , cercado de amor por todos os lados e com uma grande vontade de viver.

          Val, você pra mim, é um exemplo de vida e como já lhe falei antes, desde rapazinho, é meu ídolo. Lembro como se fosse hoje , quando você estava no Rio e ia pra Usina nas férias. Eu ficava encantada com suas roupas cheirosas e lembro especialmente de uma camisa de malha vermelha toda furadinha, que eu achava maravilhosa. Você parecia um galã do cinema.
          Hoje, ao fazer 74 anos, quero que receba meu grande abraço, meu beijo carinhoso e quero que saiba que você é um homem vitorioso, porque sua bagagem de vida é muito rica e valiosa e é isso que importa.  Você é uma das poucas pessoas que vi acordar dançando e cantando, no melhor humor do mundo e desafiando a vida e os obstáculos para ser feliz.
           Peço todo dia a Deus para lhe dar muita felicidade, muita saúde , muita disposição ,pois sei que amor você tem de sobra. Parabéns pelo seu aniversário e pela pessoa  linda  que  você é e que eu admiro muito !!!

FELIZ   ANIVERSÁRIO  !   UM  BRINDE  À  VIDA  E   AO  ENCANTO  DE  SER  FELIZ  !

Graça, 04 de outubro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

         DONA  GRAÇA , CHEIA DE GRAÇA

        Quase  quarenta anos sem mamãe !  E parece que foi ontem que a vi pela última vez. Era um segundo Domingo de agosto, dia dos pais , quando fomos todos para a usina homenagear seu Abel que vaidoso , nos recebeu com alegria. Havia a recomendação de não levar qualquer problema ou dar trabalho à dona Graça, que estava ainda em observação, por conta de um quase enfarto, há seis meses atrás .
          Ela estava feliz por ter voltado pra sua casa e como uma formiguinha que não parava de trabalhar,  nos mostrou  sua produção de peças de retalhos . Eram almofadas e paninhos artesanais , com o capricho de quem fazia tudo com amor.  Porque não podia mais usar a sua velha máquina de costura, passou  a fazer tudo à mão.
          Passamos um dia maravilhoso ao lado dos nossos pais , sem imaginar que aquele seria o último dia com os dois. No dia 29 do mesmo mês , ela partiria  abruptamente, deixando-nos órfãos como se crianças fossemos.
          E a nossa vida de sonho no paraíso  Usina Trapiche, se encerrava ali.
          A dor da perda foi tão grande que nos vimos sem  bússola , qual navegantes perdidos no mar de sofrimento.  Papai ficou completamente desnorteado  e , sem dúvida , começou a morrer também. Fomos  surpreendidos  pela primeira vez pela morte tão perto de nós e hoje sei que não estávamos preparados para isso.  Ninguém nunca está , na verdade, mas nós nunca tínhamos  sentido na pele a dor de uma perda tão irreparável.
         Eu, especialmente, fiquei muito frustrada por não ter tido oportunidade de lhe dizer que estava grávida do meu quarto filho :  a Leila.   Fiquei sabendo com certeza da gravidez ,alguns dias antes e como naquela época , não tínhamos a facilidade de comunicação  de hoje,  ela não pôde curtir a notícia de mais um neto a caminho. Como lamentei  !
         Mamãe foi uma criatura que adorava ser avó,  o quê  a enchia de alegria sempre !  Ela e papai tinham verdadeira adoração pelos netos e se encantavam com a presença deles na sua casa. Não precisa dizer que os dois enchiam as crianças de mimos e eu , que tinha os três primeiros,  ficava danada quando voltavam pra casa cheios de manha.  Até hoje, eles  lembram de coisas  como os bolinhos que ela fazia com a comida para lhes despertar  o apetite. Coisas da dona  Graça , que não perdia a chance de agradar.
         Mamãe foi a melhor pessoa que conheci na vida. Ela reunia todas as virtudes que uma pessoa pode ter.  A sua bondade foi determinante na nossa formação  familiar. Apesar da  sua aparência  frágil, foi com sua fortaleza  que soube  conduzir  tão bem as nossas vidas.
         Fico  lembrando  dela, dos seus bordados , da sua mão maravilhosa no comando das panelas, sempre nos oferecendo comidas deliciosas que não conseguimos esquecer. Penso com meus botões que na época,  ela podia ter apenas um limão e certamente fazia dele uma saborosa limonada. Imagino se tivesse os recursos  que temos hoje !
         Lembro  como gostava de receber todo mundo, com sua mesa farta e como se deliciava em ver determinadas pessoas comerem com gosto a sua comida preparada com esmero. Boba era uma , que ela adorava ver comer.
           Bons tempos , aqueles em que nos reuníamos   na usina !  Era uma verdadeira farra !
           Sinto muita saudade de tudo, mas não sofro com as lembranças. Muito pelo contrário, me sinto privilegiada de ter feito parte de uma história muito  bonita  que foi de todos nós. Gostaria muito que meus filhos guardassem tão boas lembranças da infância deles , mas infelizmente não consegui  fazer com que tivessem um mundo tão mágico como o meu . Nem sempre  uma história se repete, mas certamente marca para sempre a nossa vida eu  sou muito grata a Deus por me ter dado a maior dádiva que um filho pode ter :  Pais amorosos e dedicados que com sua generosidade encheram a nossa vida de bênçãos  incomparáveis.
           Não me canso de render-lhes homenagens. Que Deus os encha de muita luz e felicidade  eterna !!!

Graça, 29/08/2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

INDEPENDENCIA OU MORTE!

Chegou setembro, o mês mais bonito do ano, cheio de promessas e de lembranças, o mês que nos traz o sol, a primavera, a vida.
Hoje, o Brasil comemora a sua libertação de Portugal. O país está em festa e a data é de muito saudosismo para pessoas que, como eu, aprenderam o significado da palavra INDEPENDENCIA. Aprendemos que “Os grilhões que nos forjavam” foram quebrados e que a partir dai, estaríamos livres da exploração e da extorsão pérfida e determinante que nos oprimiam, enquanto Colônia.
Quantas vezes fui apreciar o desfile de patriotismo que empolgava os brasileiros crentes, como eu de uma verdadeira INDEPENDECIA! Quantas vezes fui prestigiar o dia mais importante da vida do cidadão brasileiro! 
Quantas vezes participei do desfile, com o entusiasmo dos estudantes da minha infância, marchando garbosos e sabendo cantar os hinos da Pátria Amada!
Já adulta, fiz questão de levar meus filhos, pequenos na época, de ônibus, de Olinda até a Av. Conde da Boa Vista, em Recife, para que participassem da festa cívica do 7 de setembro.
Tudo isso me parece muito distante e irremediavelmente me leva de volta ao passado, na nossa querida Usina Trapiche. Fecho os olhos e posso ver o pátio do Grupo Escolar forrado de rosa, das flores das grandes acácias, que explodiam sob nossos pés descalços. Posso ter a sensação gostosa que isso provocava. Havia também um Flamboyant que enchia de vermelho os nossos olhos maravilhados.
O Grupo Escolar era vizinho à nossa casa, de onde se podia ouvir as vozes empolgadas das crianças cantando os hinos da Pátria. Mamãe se divertia com os erros que elas cometiam como: “Recebe o OFETO que se encerra”...” ou” Brasil, um sonho intenso um raio SÚGIDO...” e por aí vai o besteirol da molecada, o que não é de se estranhar, visto que as palavras dos hinos são incomuns até para muitos adultos que não sabem o que significam. Mas a escola dava lições de civismo e amor à Pátria. E no dia 7 de setembro, perfiladas, as crianças marchavam solenes pela rua, aplaudidas pelos moradores que não perdiam uma parada.
A emoção de desfilar nessa data era muita e assim crescemos, com o entendimento de respeito às nossas manifestações cívicas. Sabíamos que D. Pedro I, de cima de um cavalo branco, com espada em punho, às margens do rio Ipiranga, deu o seu grito de “INDEPENDENCIA OU MORTE”, libertando o nosso Brasil da Coroa Portuguesa. Hoje , mais do que nunca, estou certa da versão do nosso avô Gaspar Peres, em um de seus livros (segundo papai falava) que o grito foi de dor de barriga. De dor de barriga, eu não sei, mas com certeza um grito de desespero em perceber que estava abrindo mão do nosso ouro, do domínio sobre nossas riquezas. Talvez até ele previsse que a proclamada independência fosse um prenuncio da nossa REPÚBLICA desfigurada, de hoje, da falta de patriotismo dos nossos governantes que fazem dos seus mandatos um pé de meia.
Não sei se hoje temos o que comemorar, sabendo que nos livramos do domínio de Portugal e caímos nas “MÃOS LEVES” dos brasileiros espertos, que nos oprimem com sua ganancia de poder e imoral formação de quadrilhas, que comandam o nosso País.
Sinto saudade sim, do tempo em que tínhamos esperança, do tempo em que nos ensinavam a respeitar as leis e as instituições brasileiras. Sinto saudade do tempo em que havia um lampejo de ética na política, do tempo em que candidatos se apresentavam à altura do cargo que almejavam. Hoje, eu não entendo mais nada. 
O Poder Judiciário é formado por pessoas capacitadas para julgar e aplicar as Leis, enquanto que os outros dois Poderes, o Legislativo e o Executivo, qualquer Zé sem um mínimo de instrução pode exercer. Como podemos reclamar das Leis e das decisões se eles nem sabem o que fazem? O cidadão comum, aquele que estuda, que investe tudo em melhores conhecimentos, que se doa ao bem comum, não consegue um salário digno, enquanto essa cambada sem preparo e sem escrúpulos mama nas tetas do tesouro público.
É, e mais um setembro nos promete a melhor estação do ano, mesmo assim. No meu Pernambuco lindo e hospitaleiro, o dia de hoje representa a abertura da temporada de praia. Lá , as chuvas se recolhem e o sol aparece com força, oferecendo dias luminosos a todos. É hora de festejar, de comemorar as maravilhas da natureza que, graças a Deus , estão nas mãos d’ Ele e não nas dos abomináveis governantes brasileiros!


Graça, 07 de setembro de 2012.

domingo, 2 de setembro de 2012

MEU BRASIL À DERIVA

MEU BRASIL À DERIVA




                  O Apocalipse, na Bíblia, fala de forma figurada e difícil de entender do fim do mundo. Creio que João foi muito moderado nas suas profecias. Também pudera, na época não era fácil explicar o que seria uma guerra atômica como previu Nostradamus. 

                   Hoje, nós sabemos o que poderá acontecer com o mundo se um alienado desses, que tem o poder de fazer um estrago, resolve dar fim à humanidade.  Fico arrepiada só de pensar em tamanha catástrofe.  Só que, infelizmente, a humanidade caminha para um desfecho atroz e exterminador.

                   Não precisamos consultar a Bíblia ou conhecer as profecias de Nostradamus, para saber que o homem que fala tanto em PAZ, em algum momento, quis realmente isso.  É uma grande utopia, pensar que um dia teremos nossas vidas e nossos direitos preservados diante de tanta ignomínia que avassala a humanidade.

                   Nós brasileiros, que vivemos neste país de tanta terra, tantas riquezas, tantas maravilhas naturais, reclamamos da bandalheira que se instalou no poder e que não é de hoje, inferindo a nós todos uma falta de dignidade que a cada dia aumenta, não atingindo só aqueles mais desprovidos de oportunidades, mas a todos que se atrevem a produzir algo. 

É PROIBIDO SER HONESTO E TRABALHADOR NESTE PAÍS.

Esta é a questão que perturba e mutila nossos sonhos, nossa pretensão de querer contribuir para o desenvolvimento da nossa Nação.  Estamos cada vez mais pobres, mais endividados e sem perspectiva.  O setor privado está pedindo socorro, as pessoas estão ficando desesperadas e cada dia mais indignadas com a falta de entendimento dos governantes, que cada dia mais se mostram voltados para seus próprios interesses.

                  Não sou uma expert em Política e Economia, mas não sou burra como qualquer um de nós não é. Sou uma brasileira entre tantos, sem voz e sem esperança.

                  Estou no centro de maior poder econômico e me assusto com o que vejo todos os dias: muita gente sem crédito, com o nome sujo, empresas fechando as portas e o desespero tomando conta de muitos. As pessoas estão com nome sujo, não por safadeza, mas porque não conseguem pagar suas contas e sofrem.  As empresas não se sustentam por conta de uma economia desorganizada, um mercado de competição desleal, uma indústria de impostos desumana, consumidora de qualquer ganho auferido.

                   Aí a gente se pergunta: O que está errado?  Tudo está errado.  O salário mínimo, por menor que seja, é impraticável para quem paga.  O trabalhador, a formiguinha do processo não consegue se manter com uma quantia tão irrisória, o empregador não consegue pagar o mísero salário, porque os impostos são assassinos  e o custo operacional é altíssimo. Então resta uma saída: para o empresário, a sonegação e a desgraça quando são flagrados pelos fiscais que por sua vez querem se beneficiar de alguma forma.  Para o trabalhador, que não consegue sobreviver nem com o pouco que ganha, o desemprego. Resta a informalidade, sem segurança alguma.  Resta a tentação do ganho a qualquer custo. 

                  O EXEMPLO vem de cima, com a organização das quadrilhas que aparecem todos os dias, sem punição.  A impunidade tem que prevalecer para proteger os poderosos e os
bandidos são beneficiados. Os crimes são cada vez mais hediondos. Todos sabem que não vão pagar por eles.  E o pior é que o crime mais abominável é contra o povo, que sofre as consequências de um País sem ética e sem moral.

                  Quanta vergonha e desesperança!

                  Aqui, no nosso paraíso, não temos as piores catástrofes e quando acontece alguma, o povo que se vire, como aconteceu na serra fluminense.  Nada foi feito até hoje!  Se não fosse a solidariedade de alguns, a coisa seria pior.

                  Temos nossos problemas e ainda temos que nos considerar felizes se medirmos nossa felicidade com a de outros povos que se matam sem a menor noção da destruição que estão ensaiando para o mundo. Estamos realmente à beira de uma TERCEIRA GUERRA que será rápida e avassaladora.  As previsões de Nostradamus estão se realizando e não será pela água nem pelas mudanças do planeta, mas pela grande inteligência e genialidade do homem.

                  DESESPERO não vai nos salvar dessa catástrofe que certamente já aconteceu antes e da mesma forma. Resta-nos esperar que  os poderosos do mundo se humanizem  e que os poderosos do nosso PAÍS DAS MARAVILHAS  sejam mais patriotas, justos e honestos !

                  Uma Nação é soberana, quando seu povo é feliz e respeitado!





Graça, setembro/2012                  

quinta-feira, 12 de julho de 2012


             MEU “ PSEUDONAMORADO “

             Nada como um dia chuvoso , frio, sem dinheiro no bolso, sem muita perspectiva de pelo menos bater pernas nos Shoppings da vida, aqueles a céu aberto, onde estão todos o camelôs de plantão “ terror da Prefeitura”, meus amigos e sonho de consumo, para ficar em casa e contar histórias.
             A  opção é essa : contar história.
             Hoje , eu vou até os anos 61, 62, quando mocinha, engraçadinha, cheia de sonhos, morava no Derbi, na rua Viscondessa do Livramento, casa da minha tia Mana.  Era um prédio de três andares, chiquérrimo na época e ficava atrás da Faculdade de Odontologia. Na rua da Faculdade , bem na esquina ficava a Casa do Estudante de Pernambuco, um prédio grande , mantido pelo governo, que abrigava os rapazes  universitários que vinham do interior do Estado.
               Para ir ao colégio, eu tinha que necessariamente passar na frente do prédio e fazia isso normalmente sem me preocupar com os assobios e gracinhas que tinha que ouvir. Na verdade, até gostava de ser notada, mas apesar de ser meu caminho diário, não conhecia ninguém de lá.
               No colégio, eu tinha uma amiga que estava de namorico com um estudante de engenharia, que morava na casa do estudante. Como na época , era difícil acesso a telefone e na casa da minha tia tinha um que aliás ainda lembro o número “ 3157” , ela me pediu para ligar para o rapaz de nome  Zadock.  Na casa devia ter muito Zé, Tonho, Chico, mas  Zadock, com certeza , só o próprio.  Tudo bem.  Dispus-me a fazer o favor pedido e ao chegar em casa fiz a ligação. Atendeu uma  voz masculina jovial e educada que me informou que o Zadock não estava e se dispôs a conversar comigo. Batemos um papo descontraído, falamos de estudo e coisa de jovens. Ele me pediu o telefone, eu dei e ficamos de nos falar novamente.
                   No dia seguinte , o moço ligou e conversa vai , conversa vem , ele sabia quem eu era e até me descreveu. Por coincidência , era amigo de uma família, com quem eu me dava muito bem pois era família de uma amiga minha de colégio, com quem eu ia e voltava todo dia.  Por ser amigo desse pessoal conhecido, dei trela ao rapaz e ficamos amigos pelo telefone. Minha amiga ficou toda ouriçada e logo virou cupido na história. Eu sabia tudo dele, ele sabia tudo de mim, mas não nos conhecíamos pessoalmente.
                       Eu costumava ir à missa aos Domingos, na capela da Maternidade do Derbi, que ficava na rua da casa do estudante.
Num Sábado, numa de nossas conversas ,o Misterioso me convidou para irmos ao cinema Boa Vista na sessão de 10;00h. Como eu não o conhecia   e íamos na mesma missa domingueira, combinamos que ele estaria lá e quando eu o olhasse ,  ele iria sorrir pra mim e assim a gente se identificaria. Muito bem. Combinei com minha amiga e a mãe dela ,a ida ao cinema e lá encontraríamos o meu” príncipe”. Na época era assim mesmo:  ir ao cinema, só com duas velas porque eu era uma mocinha de família, coisa e tal.
                       Tudo acertado, saí cedinho de casa para a missa das 7:0h. Claro que não cabia em mim de tanta ansiedade. Afinal, seria o meu primeiro encontro com um rapaz e eu já tinha meus dezessete anos. A produção, naturalmente foi esmerada e lá fui eu, séria como sempre, sem sequer olhar de lado, para o cumprimento da minha obrigação religiosa. Na missa, apesar de muito compenetrada, não prestei mesmo atenção ao ritual. Na minha cabeça, só tinha o pensamento de me virar para trás e dar de cara com o meu  provável futuro namorado. A emoção era muita e havíamos combinado de não nos falarmos nem na igreja , nem  no caminho de casa, pra que os outros rapazes não percebessem. Afinal, seria um motivo para tirarem sarro da cara dele.
                        Fiquei um bom tempo sem ceder ao impulso de olhar para trás. Afinal, eu não podia demonstrar ansiedade. Tinha que ter compostura !!!  -Enfim olhei e dei de cara com um  “Santo Antonio à paisana”, que me abriu um lindo sorriso, ao qual correspondi. Depois fiquei na minha , não olhei mais pra trás e no final da missa fui embora feliz da vida : o cara era um deus grego !!!
                          Com permissão da minha tia, fui ao cinema onde minha amiga e sua mãe estariam à minha espera. E estavam com um rapaz que eu não conhecia. Fizeram-se as apresentações e eu muito sem graça entendi  que aquele era o meu pretendente.  Quase desmaiei, fiquei toda atrapalhada, porque sabia que ele tinha visto o meu engano na igreja. Talvez ele fosse até mais bonito que o outro mas fiquei decepcionada com a minha falta de percepção.  Entramos no cinema, eu , ele e as duas velas , uma de cada lado. Nem conversa aconteceu. Ficamos amigos e sempre estávamos juntos nos eventos como jogos universitários e festinhas na casa  das amigas. Dançávamos muito e todo mundo pensava que éramos namorados, ao ponto de se comentar na família o meu namoro e naturalmente a curiosidade da minha tia em saber quem era, de onde era, a qual família pertencia e o que seria na vida. Só que a despeito de tudo, ele era muito tímido e nunca passamos de bons amigos . Ele nunca me falou de namoro, nunca aconteceu nada e até hoje não sei se foi meu namorado. Só sei que quando apareci com um de verdade, ele desapareceu.  Acho que ele namorava comigo e eu não sabia !!!!
                     Só para complementar : se fosse hoje, com certeza eu não passaria de cabeça baixa pela casa do estudante, não teria ficado tão comportada na missa, não iria ao cinema cheia de velas e acabava com a timidez dele perguntando logo qual era a sua. Os tempos mudaram de verdade  e felizmente eu não parei nele como muitos contemporâneos meus !!!

Graça,julho/2012

sábado, 7 de julho de 2012


LAPIDAÇÃO

O tempo é um poderoso buril
Que sai aparando as arestas
Na sua lapidação suave e sutil ,
Aos poucos , com muito cuidado
Mudando a pedra ,cega e  bruta
Em diamante de brilho refinado.
Nossa  alma , uma vez  lapidada
Espalha luz na sua caminhada,
Se transforma em flama reluzente,
Penetra assim em muitas moradas
Abrindo as portas, levando brilho
Ao coração que embora resistente
Se ajoelha  de amor , em  pranto
Tremendo  o peito no seu pulsar latente.
Somos todos pedras brutas à espera
Das marteladas precisas  do artífice:
O  tempo que   ao passar se esmera
Em nos dar vida, amor e encanto.
Nada ao acaso no nosso viver acontece,
Tudo  é fruto da nossa luta  e mérito,
A vida se encarrega de nos abrir a conta
Cabendo-nos o dever de adquirir o crédito.

Graça,julho/2012